E a verdade é que passam os anos, mudam os ventos e as vontades. Mas há um princípio que se mantém enraizado na cultura Chinesa: sozinhos vamos depressa, mas juntos vamos mais longe.
Crónica Aspas Aspas de Teresa Louro, estudante de UWC na China
Estava sentada num anfiteatro espaçoso em Changshu, era Ano Novo Chinês. Este ano era ainda mais especial, o ciclo de 12 anos, segundo a tradição Chinesa, tinha chegado ao fim. Num futuro próximo avistava-se o próspero ano do rato. Durante duas horas vários grupos de artistas subiram ao palco e apresentaram as suas performances. Uma orquestra tradicional, ballet chinês, ópera chinesa, a famosa dança do dragão e uma ou outra apresentação de alguns alunos internacionais, só para dar aquela pitada de diversidade e inclusão cultural.
Nada de novo.
Excepto, talvez, a minha capacidade de observação naquele dia que deu origem a um momento eureka como nunca havia tido antes. Fui verdadeiramente iluminada!
O segredo do sucesso da civilização Chinesa tinha acabado de se desvendar perante os meus olhos e eu nem sabia bem o que fazer com ele. Então caro leitor, que já deve estar farto desta conversa pseudo-refletiva, vou dar-lhe a conhecer o que me foi dado.
Comunidade.
Ou seja, sub-conscientemente depois de viver um ano e meio na China, fui reparando em padrões comportamentais frequentes e finalmente o meu cérebro tinha estabelecido a ligação entre estes eventos.
Tudo o que os Chineses fazem, fazem-no em comunidade.
As formas de arte tradicionais, todas elas exigem um grupo de indivíduos para que funcione. E estes indivíduos precisam de confiança mútua e sintonia. Ainda mais extraordinário é que se pode aplicar este conceito à maioria das actividades, até mesmo no governo Chinês. Eu sei que este tópico é controverso mas a verdade é que o partido comunista chinês é composto por um grupo de “deputados”/”ministros” mas todos eles com poder idêntico na toma de decisões. E falando também num sentido mais individual, em chinês a palavra 家 (jiá) significa casa e família. O próprio indivíduo sabe e está enraizado, desde novo, que para prosperar precisa de uma comunidade, neste caso a família.
Sucesso e Saúde
Este evento que vos relatei há umas linhas atrás aconteceu exactamente uma semana antes de ter recebido um e-mail que me obrigava a regressar a Portugal imediatamente, querem tentar adivinhar porquê? A duas províncias de distância estavam agora a ser relatados os primeiros casos de Covid-19 e como não há cá pão para malucos todos os alunos internacionais foram recambiados para casa.
E por muita especulação que haja em relação aos verdadeiros números de vítimas do vírus na China, uma coisa é certa. Individualmente, os Chineses agiram em prole da comunidade. E a comunidade Chinesa agiu para protecção do individuo. Passo a explicar. A minha colega de quarto é natural de Wuhan (o epicentro da doença) e voltou para casa para celebrar o ano novo chinês. Ela vive num T1 mínimo com os pais e um gato. Mas isso não mudou o facto de que, desde dia 27 de Janeiro até dia 20 de Março, nem ela nem os pais puseram os pés fora de casa. Nem para ir correr, apanhar ar ou até passear o bichano. Ficaram em casa. Ponto. E porque é que isto é importante? Porque num país com tanta gente, agir para o bem comum e em prole da comunidade, teve uma importância significativa no controlo do vírus.
Na minha modesta opinião, isto é de valor.
O que podemos aprender com a China?
Há vantagens em investir numa comunidade unida e que trabalha para um objectivo comum.
E isto talvez explique o sucesso económico chinês, os avanços tecnológicos, o impacto cultural que se vai alastrando para lá do mundo oriental e até a razão pela qual a China mantém tantas tradições ao fim de tantos séculos de história. E a verdade é que passam os anos, mudam os ventos e as vontades. Mas há um princípio que se mantém enraizado na cultura Chinesa:
Sozinhos vamos depressa, mas juntos vamos mais longe.
新年快乐.
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