Mariana Mazzucato, economista e professora de Economia na University College of London, diz-nos que o Capitalismo tem os dias contados, principalmente nos países da Europa Ocidental.
Texto de Joana Garrido Amorim
Joseph Schumpeter, economista austríaco, concordaria, talvez não no sentido da insustentabilidade do capitalismo, mas na tendência de o capitalismo se transformar em socialismo.
Como? Schumpeter considerava que o capitalismo existia através de uma estrutura hierárquica, numa organização de liderança. Esta estrutura funcionaria no curto-médio prazo, através de círculos virtuosos. Contudo, com o passar do tempo, estes ciclos tornar-se-iam recessivos e depressivos, em que a liderança se torna rotineira e mecanizada, um processo inteiramente racionalizado.
É através deste processo automatizado que o capitalismo tem tendência a transformar-se em socialismo.
Na perspetiva de Mazzucato, a tendência para o capitalismo se transformar depende do setor público e do sucesso com que este se consegue transformar, através de um procedimento muito específico: canalização de talento e valorização dos profissionais mais qualificados e capazes.
Da mesma forma que o setor privado move ventos com a consultoria empresarial, financeira, bancária, há a necessidade de o setor público ter de se mover no mesmo sentido. Através da consultoria privada, em Portugal, já se obtiveram sucessos de investigação: no caso BES, na Caixa Geral de Depósitos, com a Isabel dos Santos, com a Telecom, nos Clubes de Futebol. A consultoria privada é a fonte de investigação dotada dos dados estatísticos mais viçosos e exclusivos. Bases de dados completas e com dados internos dos mercados. Não os temos no setor público. Onde estão os dados e as correlações econométricas, os intervalos de confiança para o setor público? É por isso que se valoriza a ausência da presença do Estado nas empresas e nos cuidados essenciais para a população? Pelo facto de este funcionar mal, como sabemos, mas ninguém querer resolver o problema e ao invés, privilegiarem a privatização pela sua incompetência?
Onde estão os dados que correlacionam a população das regiões de Portugal com as oportunidades de emprego, a relação que existe entre os rendimentos auferidos pelas famílias e origem destes, com a atribuição de bolsas universitárias de licenciatura e de mestrado? São os Censos as únicas fontes estatísticas recolhidas da população com generalidades que não permitem quantificar variáveis que permitam perceber tendências de mobilidade, de estado social e da necessidade de se corrigirem falhas? Em que medida é que as delegações hospitalares das regiões conseguem satisfazer a população? Quais são as delegações hospitalares que trabalham com maior qualidade? São os investimentos feitos pelas juntas de freguesia e pelas câmaras municipais, investimentos com retorno? Estão encaminhados para uma estratégia específica? Em que medida é que os gastos com educação pelo Estado compensam o que os indivíduos contribuem para o PIB português? Trazem-nos os investimentos públicos vantagens nacionais e internacionais? O investimento que fazemos em geriatria é superior/inferior ao contributo que estes indivíduos deram enquanto eram população ativa? Estão as freguesias e os municípios articulados com os objetivos estruturais do país? Está o país articulado com as dificuldades de execução das freguesias e dos municípios?
A necessidade de se poderem fazer correlações com dados do setor público são essenciais para a implementação de uma estratégia direcionada e de resultados que vão ao encontro das metas estabelecidas, permitindo compreender as virtudes e as necessidades de cada território, facilitando aos deputados e aos agentes decisores, a condução de um planeamento orientado e de fácil fixação no terreno. A pandemia mostra-nos esta desorganização. Concelhos diferentes na densidade populacional, tecido empresarial e económico com restrições iguais e com a mesma intensidade na aplicação das medidas de confinamento, sem se olharem às caraterísticas geográficas e territoriais de cada região. Como é obvio, não podemos querer que uma região transfronteiriça do interior seja alvo das mesmas restrições que uma região do litoral rodeada por acessibilidades e vantagens territoriais.
A mission guide to changing capitalism is needed.
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