de Joaquim Couto
A economia portuguesa tem tido historicamente uma má performance quando comparada com a média europeia. Os dois períodos de maior crescimento em relação à média europeia coincidem com a entrada na EFTA (1959) e na CEE (1986). Em ambos os momentos, a abertura da economia portuguesa contribuiu para a melhoria da taxa de crescimento da nossa economia.
São vários os fatores que podem ajudar a explicar a evolução dos dados económicos portugueses. Um dos fatores que me parece plausível de ser apontado é o da dimensão das empresas portuguesas. Ao longo deste artigo tentarei explicar de que modo alterações na dimensão das empresas podem melhorar os resultados das mesmas.
Segundo dados publicados pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, as empresas portuguesas, pelo menos até 2018, tinham a dimensão média mais baixa da União Europeia. A PORDATA, nos seus dados relativos ao número de empresas, mostra que, em Portugal, 99,9% das empresas são PME´s. Ainda mais interessante é notar que 96% são microempresas, ou seja, empresas que empregam menos que 10 pessoas ou têm um volume de negócios inferior ou igual a 2 milhões de euros.
Temos então um tecido empresarial caracterizado por empresas de dimensão muita reduzida, o que impede, por exemplo, a obtenção de economias de escala (reduzir o custo unitário com o aumento da produção) por parte dessas empresas, dificultando o seu crescimento e internacionalização. Esta questão da dimensão contribuiu para o facto de Portugal estar entre os países europeus menos produtivos.
As microempresas são muito heterogéneas entre si. Algumas existem apenas como um meio de subsistência do empresário e não têm qualquer potencial (não produzem um produto diferenciado, não têm uma boa estrutura interna, entre outros fatores), mas outras apesar de serem pequenas têm bastante potencial. As empresas sem potencial são aquelas onde o empresário não tem quaisquer perspetivas de expandir o seu negócio nem de inovar.
Estas empresas com potencial, para crescerem, precisam numa primeira fase de capital humano. As qualificações dos empresários portugueses ainda são bastante baixas – os que completaram o ensino superior são cerca de 20%. Os empresários devem melhorar as suas qualificações ou, ao invés disso, contratar especialistas, mas para algumas empresas contratar uma equipa de gestores poderá não ser viável por questões financeiras. Aqui entra em ação o papel da consultoria que pode fazer o aconselhamento estratégico da empresa.
A definição da estratégia passa, entre outras coisas, por perceber quais os pontos fortes e fracos das empresas – quais as oportunidades e os riscos. No fundo, elaborar um bom plano de negócios que permita que a empresa se torne mais eficiente. Sendo assim, a empresa irá apostar nos mercados onde tem mais oportunidades, minimizar os seus custos de produção e, desse modo, tornar-se mais competitiva.
De seguida, as empresas necessitam de financiamento para começarem. Aqui surge o papel importante do Estado. Os organismos públicos devem alocar os fundos públicos a empresas com um bom plano de negócios, que demonstrem o seu potencial e não a empresas menos eficientes. Para além dos fundos estatais existe o capital privado e, assim, surge a questão da poupança. Só há investimento quando existe poupança e a dos portugueses continua ainda abaixo da média europeia. Importa referir que o financiamento público deve ser feito numa fase inicial da vida da empresa ou quando esta tiver projetos prometedores. Não deve, portanto, ser utilizado como um financiamento recorrente, pois, para isso, existem as formas privadas de financiamento.
Aliado a isto, empresas com uma melhor gestão terão certamente uma maior capacidade de avaliação do risco e da rentabilidade dos ativos financeiros. Dessa forma poderão escolher as formas de financiamento que melhor se aplicam às características da empresa.
Tudo isto fará com que as empresas com mais potencial consigam crescer, obter economias de escala e tornarem-se mais produtivas. Se este processo acontecer em vários setores a economia como um todo vai tornar-se mais produtiva e mais competitiva, permitindo também aumentar a capacidade de exportação (a forma mais eficiente de crescermos visto que a nossa procura interna é muito reduzida).
Os empresários menos eficientes – aqueles que não inovam e têm o seu negócio apenas por uma questão de subsistência – poderão empregar-se nestas novas empresas que cresceram e fechar os seus negócios pouco rentáveis, pouco produtivos e muitas vezes associados a baixos salários.
Esta mudança da estrutura da nossa economia trará, a meu ver, benefícios para todos. Para as empresas é vantajoso, porque se tornarão mais competitivas e para os trabalhadores, porque empresas mais produtivas podem pagar melhores salários. Isto permitirá ao país reter talento, ou seja, jovens saídos da universidade que muitas vezes não encontram em Portugal oportunidades decentes. Para os consumidores, empresas mais produtivas e mais eficientes conseguem praticar preços mais baixos.
É importante referir que apesar de ao longo do texto defender que algumas microempresas devem fechar, não defendo de todo a falta de competição, que é fundamental. Defendo sim, uma melhor competição entre empresas mais eficientes. As entidades reguladoras devem assegurar uma boa competição, impedindo que práticas monopolistas limitem a entrada das empresas mais inovadoras e eficazes no mercado.
Em suma, a melhoria da gestão das empresas portuguesas e ajudas do Estado vocacionadas para empresas mais capazes seriam, na minha opinião, benéficas para a nossa economia e sobretudo para a minha geração, geração essa que cresceu em crise, que viu os melhores momentos da sua vida universitária serem-lhe sonegados por uma pandemia e que chega agora ao mercado de trabalho e se depara com salários que não permitem ter sonhos e pensar o futuro.
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