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A Direita Abrileira

Atualizado: 15 de jul.

De João Maria Jonet


50 anos depois, celebrar o 25 de Abril ainda é visto como estranho, performativo ou mesmo disparatado por muita gente à direita. Afinal, para a direita, as revoluções são um bocado como as desculpas: Não se fazem, evitam-se. 

Muitos falam de preferir a transição espanhola, dos traumas do PREC e da qualidade do processo de descolonização para justificar que este não é um dia para festejar, mas para observar circunspectamente enquanto a esquerda celebra o seu triunfo e os saudosistas se lamentam. 


Em Portugal sempre tivemos este grupo de neutros, que acham que a revolução não foi boa nem  má, antes pelo contrário. No meu partido, o PSD, diria que são maioritários. 


Ficam em casa a lamentar que o 25 de Abril tenha donos enquanto outros tomam as ruas para associar à esquerda uma revolução que não podia ter sido mais abrangente do ponto de vista ideológico. 


Democratas do mais comodista que há, que valorizam as eleições, a liberdade de expressão, a integração europeia e a modernização económica, mas que sentem que celebrar isso não justifica uma caminhada na Avenida da Liberdade. 


A direita democrática é pachorrenta, não está para se chatear nem para se mobilizar, ou não fosse ela tão radicalmente moderada.

Gosta de se lembrar das poucas vezes que saiu à rua para ir a comícios da AD e de Cavaco e não perde muito tempo a pensar porque é que nunca mais o fez. 


Pois eu gostava de pensar nisso. 


A direita portuguesa, que se mobilizou com Sá Carneiro e Freitas do Amaral, sentia-se nessa altura ameaçada existencialmente. 


O PREC e a Constituição de 1976 tinham feito acrescentos inesperados aos três. Se qualquer democrata, da direita à esquerda, podia concordar que era inevitável e necessário em 1974 Democratizar, Descolonizar e Desenvolver, não era de todo consensual no País que se fizesse o primeiro em modelo de Democracia Popular, o segundo entregando os destinos dos nossos povos irmãos a grupos armados apoiados pela URSS e o terceiro nacionalizando tudo o que mexia. 


Perante a ameaça que o PCP representava, confundindo a vontade das suas hostes com a vontade do País, o centro-direita mobilizou-se para pôr um travão no que podia e fazer um processo de transição democrática mais representativo do povo que se estava a democratizar.


As vitórias da AD em 1979 e 1980, a revisão constitucional de 1982 e os 10 anos de Cavaco fizeram ao regime o que hoje se exige que se faça ao próprio dia 25 de Abril: alteraram-lhe o significado e tornaram-no mais consensual.


Em 2024, não é da esquerda radical que vem a ameaça de uma democracia mais dividida e fragilizada, liderada por um grupo de auto-proclamados virtuosos que dizem saber o que quer o povo e se vitimizam por não serem reconhecidos como democratas convictos (porque não o são).

Essa ameaça vem agora da direita radical e novamente se exige ao PSD (talvez com mais responsabilidade do que nos anos 70 e 80, porque vem agora da sua área política e até mesmo do próprio partido), que faça um combate sem tréguas em defesa da democracia representativa, liberal e europeia que se conquistou com o 25 de Abril. 


Não é altura de ficar em casa e deixar que quem toma as ruas para celebrar seja apenas a esquerda. Afinal, o que muitos deles queriam não se concretizou.


Se formos olhar para as primeiras declarações de líderes políticos a seguir ao 25 de Abril e as compararmos com a atualidade, mais rápido identificamos em Portugal a visão de Sá Carneiro e de Freitas do Amaral do que as dos outros todos.


A direita democrática, distraída como um touro pelo seu ódio ao encarnado, acabou por não perceber que o 25 de Abril foi o seu grande momento triunfal. Deixou de estar refém do pensamento de um homem só, de uma visão bolorenta de um país fechado e atrasado, de um País perdido para o corporativismo e fora da rota de crescimento do resto do Ocidente.


Com o 25 de Abril, ser de direita deixou de querer dizer ser do sistema, ser cinzento e egravatado. Podia ser isso, era permitido ser saudosista, mas também se podia ser conservador ao estilo inglês, liberal ao estilo holandês ou democrata cristão ao estilo alemão.


A direita deixava de ser monocromática para ser arco-íris. Passava a ser livre. E tudo graças a uma revolução feita pelas Forças Armadas, com uma transição pacífica e institucional de poder de Marcello Caetano para Spínola. 

É preciso ser muito criativo para dizer que o 25 de Abril foi uma revolução de esquerda que nos tornou num País de esquerda. Muito mais fácil é para a direita dizer que a Liberdade é o seu valor maior e o 25 de Abril é e será sempre o seu dia. O dia em que Portugal abriu caminho para o que toda a direita hoje diz que quer: pôr-nos ao nível dos melhores da Europa. 


A Iniciativa Liberal abriu caminho a esta maneira arejada de ver o 25 de Abril, mas cabe agora ao PSD, depois de já o ter feito com a sua juventude duas vezes anteriormente, assumir esta celebração. 


Quis o rumo sinuoso da História que nos 50 anos da Revolução estivesse no poder o partido que tomou mais as suas conquistas por garantidas.

Está na altura de lhes dar valor, está na altura de o PSD realmente se mobilizar em defesa e celebração da nossa democracia. O momento histórico exige-o. As diferenças ideológicas que sustentam a política de barreira à direita radical também.


Dia 25 lá estarei a descer a Avenida como militante do PSD, com a confiança que há uns anos não tinha. Não estarei sozinho. Espero que façamos sentir a nossa força.


Temos orgulho em ser a direita de Abril, que produziu os melhores 50 anos que os portugueses já viveram e que vai fazer tudo para produzir mais 50 anos ainda melhores. 

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