Nos últimos 20 anos, Portugal tem assistido a uma estagnação da sua economia. A economia portuguesa regista taxas de crescimento muito baixas e normalmente abaixo da média europeia.
de Joaquim Couto
Poderá o plano de recuperação e resiliência mudar isso?
Pode. Mas não creio que seja suficiente e para ter um impacto positivo a cultura política em Portugal tem de mudar.
Como constatei na última rúbrica de economia portuguesa, o que tem permitido a Portugal melhorar a sua performance no que toca às contas externas foi o turismo. É um setor onde Portugal possui vantagens competitivas como o clima. Mas não me parece que crescer só com o turismo seja sustentável.
A nossa economia precisa, a meu ver, de uma transformação tecnológica (ou seja, um maior papel da inovação na atividade económica). Aliado a isto, é preciso continuar com a tendência de tornar Portugal numa economia exportadora, dado que um país como Portugal não se pode basear somente na procura interna - que é bastante pequena. Portanto, tudo o que sejam medidas protecionistas seram, à partida, pouco eficazes.
Nos anos 60 - período em que a economia portuguesa conheceu uma forte abertura ao exterior - a industrialização fez-se por via de bens com baixo valor acrescentado.
Hoje em dia já não precisamos de fazer o mesmo. Podemos apostar em bens de maior valor acrescentado baseados em novas tecnologias. Digo isto porque hoje em dia existe em Portugal uma diferença crucial para a década de 60 (para além do facto de agora vivermos em democracia): a taxa de analfabetismo é muito menor.
Os analfabetos são hoje uma parte muito residual da população. Em 1960 nem 1% dos portugueses tinham ensino superior completo. Hoje, entre os 15 e os 64 anos, 25,4% (dado de 2020) possui formação superior. A nossa mão de obra é muito mais qualificada, o que abre portas à nossa economia para inovar e se transformar tecnologicamente.
O PRR pode ajudar nessa transição tecnológica através da criação de novas infraestruturas. (Nota: o plano que na sua essência era de recuperação agora pode ser usado para uma reforma estrutural na nossa economia). É importante que as empresas ajudadas sejam viáveis e com potencial. Para além do PRR, é importante que os empresários portugueses percebam bem as vantagens de uma aposta contínua na inovação.
Em conclusão, creio que estamos perante uma excelente oportunidade para inverter o rumo dos últimos 20 anos. A nossa cultura política, mais amiga da “cunhocracia” e não da meritocracia empresarial pode ser uma barreira a esta transformação. A mudança da cultura empresarial será fundamental também (mas isso já é um tema que daria para um outro artigo).
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