Maria Carolina nasceu, cresceu e casou ao sabor da corrente do Tejo. Fixaram-se ali na Aldeia da Palhota as famílias de pescadores que Alves Redol apelidou de "ciganos do rio". Vindos da praia da Vieira de Leiria para sobreviver aos invernos, ocupavam-se as mulheres do remo e os homens das redes, até começarem a ocupar-se das margens.
As casas contam-se pelas mãos e Maria Carolina vive quase sozinha com o filho Marco Polo numa aldeia-museu. A visita guiada fá-la sem pedido.
No quintal, há horta e há galinhas, coelhos, bácoros, e um cão.
Nas casas, vazias de gente, mas que já comprou "para os filhos que vierem do Luxemburgo", vivem memórias nas toalhas de mesa que coseu, nas chávenas que trouxe do estrangeiro e nos álbuns de fotografias onde guarda a saudade do marido. Em todas as divisões, pede desculpa pela desarrumação: "ainda não dei conta de tudo, já não tenho a genica".
Lá fora, perto do rio, pára o barco onde se casou e onde casou a filha, descalça e vestida de pescadora. No Tejo, param outros barcos que ainda remam entre aquelas margens.
Para Maria Carolina, da janela de casa, o Tejo é também paisagem emoldurada. A vida de avieira vive-a no coração.
Fotografias e texto de Inês Leote
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