de Pedro Teixeira Brites
Certamente atirámos cerveja ao ar. Certamente nos agarrámos uns aos outros em mares de euforia. Certamente celebramos mais uma passagem sofrida e certamente nos agarrámos às camisolas que tínhamos vestido em tons de sofrimento.
Mas a lucidez obriga-nos a questionar o que ontem, e neste europeu, aconteceu. Este jogo não nasce fruto de um azar, de um dia mau.
Esta é a seleção que Roberto Martinez desenhou: um conjunto de indivíduos, por vezes, a jogar desconfortáveis e cujas ideias são desconhecidas – até porque parecem inexistentes.
Não me alongarei demasiado, até porque ninguém terá paciência. Sobre ontem, falemos de 2 questões apenas: Roberto Martinez e Ronaldo.
Roberto Martinez, à semelhança dos jogos com a Chéquia e a Geórgia, mostrou-se incapaz de perceber o que o jogo pedia.
Foi incapaz de perceber que Bernardo na linha não rende (como nunca rendeu), foi incapaz de perceber que Vitinha, sendo o cérebro de Portugal, não pode sair a meio do jogo (já que jogamos até aos 120), foi incapaz de notar o cansaço de Pepe, que nos ia tirando do Euro e foi incapaz de perceber que substituições são para se fazer, a tempo e horas.
Somos uma equipa que, a defrontar a 57ª seleção do Ranking FIFA, não tem uma ideia que se preze e ainda se fala “da relva que dificulta a equipa com posse”. Nem as individualidades, ontem, valeram.
Em relação a Ronaldo, é simples. Ronaldo fica em campo se quiser. Sai se quiser. Se quiser fazer o pino em campo, faz. Se fizer um jogo miserável, só sairá se assim o entender. Se for um dos que faz peso no barco, Martinez deixará que o barco afunde, antes de o tirar de campo.
Ontem não vimos o Ronaldo que deu corpo a textos no LinkedIn. Hoje, Ronaldo não foi um líder porque, mais uma vez, se colocou à frente de todo um país.
Por mais duelos que tenha perdido na área, por mais falhas que tenha cometido e por mais que tenha hipotecado este torneio a 11 milhões de pessoas, Ronaldo não achou que pudesse ter dado o lugar a outro.
A sua conferência, aliás, mostra este ponto. Fala em “não desistir”. Saber parar não é desistir. É ser um líder. É ser grande. É ser mentor e é ser o melhor.
Infelizmente, para Ronaldo, “desistir” e “saber parar” são sinónimos no dicionário que CR7 não tem à mão. Não houve livre que Ronaldo não batesse. Não houve momento em que, tendo oportunidade, não tenha puxado a decisão para si. Este é o Ronaldo de há 2 anos e será assim até ao fim. Ronaldo não sabe fechar ciclos. O seu egocentrismo não o permite.
A própria entrada em campo, depois da forma como estava emocionalmente destabilizado, mostra a incapacidade de colocar uma rédea a esta individualidade que se tem acima do coletivo.
Oxalá aprenda e, caso ganhemos esta competição, pense seriamente em sair pela porta grande. Se não a ganharmos, já não irá a tempo de o fazer.
Comments