A Queima das Fitas do Porto celebrou o seu centenário na semana passada, de 2 a 8 de maio. Ironicamente, no seu lugar, desde o início da pandemia, encontra-se instalado um Drive-Thru de testes à Covid.
Texto de Teresa Brito e Faro
Se me tivessem questionado sobre este assunto na semana anterior (a mim, ou à grande parte dos estudantes universitários do Porto, penso eu), teria respondido, possivelmente entre lágrimas, que os dias de pausa que se aproximavam seriam usados para antecipar o estudo da época de exames. Embora tenha sido esta a realidade para alguns dos nossos estudantes, hoje escrevo sobre os que levaram cartolas, bengalas, trajes e fitas para o centro do Porto. Com ou sem Quim, com ou sem álcool barato, os finalistas de 2021 celebraram, abraçaram, cartolaram e choraram o equivalente a mais de um ano de emoções por viver.
Nos anos que antecederam a minha entrada na Universidade do Porto, tal como a maior parte dos alunos de secundário mais relaxados, fui avisada várias vezes e marcada pela ideia de que “na faculdade, não vai ser assim”. Os professores não te vão conhecer, os teus colegas vão ser apenas colegas, vais estudar muito e ansiar que acabe rapidamente. Em retrospectiva, três anos depois, com um ainda pela frente, tendo a simpatizar com a tese de que a faculdade não é, de facto, como qualquer coisa que eu pudesse imaginar - é melhor - . Admito que a maior parte dos professores não me reconhece nos corredores, mas não os culpo. Quanto ao resto, os meus colegas são meus amigos, o estudo tem sido suficiente e cada vez tenho mais dúvidas de que vá ser assim tão pacífico despedir-me de um sítio que foi casa durante 4 anos.
Se muitas vezes me convenci de que estava a viver uma experiência académica privilegiada, o que testemunhei nestes dias de “não Queima” provou-me o contrário: o que sinto é o que a maioria dos universitários do Porto sentem. Sem prejuízo da combinação com os fatores bom tempo e recente desconfinamento, ficou mais do que provado que a faculdade é muito mais do que o sítio onde vendemos a alma por um diploma. De todos os finalistas, ouvi, sem exceção, que não esperavam dias tão emocionais. Dia após dia, saíram de casa e preencheram os Leões, os Clérigos e os Aliados com as cores dos cursos.
Graças ao trabalho da Federação Académica do Porto, foi também possível manter as tradições da Serenata e da Missa da Bênção das Pastas, assim como alguns dos concertos mais emblemáticos e típicos da Queima das Fitas, em formato digital. Para terminar a semana de catarse, no passado dia 8 de maio, foi lançado o documentário “Porto de Encontro”, nas redes sociais da Federação – são 40 minutos de academia e de Porto – dedicados a quem suspirava pela sua própria Balada da Despedida.
A Covid roubou-nos o Queimódromo, mas não conseguiu apagar o espírito académico da semana mais intensa do ano para os estudantes. Devo ressalvar, contudo, que esta é a visão de alguém que ainda não perdeu a esperança quanto à Queima das Fitas 2022, na qual vou ser finalista e vingar dois anos de aulas online, regimes mistos, proibições de atividades não letivas e pouquíssima festa. Aos finalistas deste ano, resta-me congratulá-los e convidá-los para o próximo Cortejo, que também lhes pertence – nas palavras do ímpar Quim Barreiros em entrevista ao “Porto de Encontro” - que seja a maior festa de sempre.
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