Cartoon e texto de Catarina de Carvalho Lopes
Para a sua rubrica Cataestrófica
O número de pessoas brancas que se ressentiu com a afirmação de Joacine Katar Moreira é indício de que a fragilidade branca, esta situação de se ser confrontada com a própria cor (algo a que, como pessoas brancas, não estamos acostumadas) de forma defensiva e magoada, é uma questão ainda por dissecar, desconstruir e curar.
Quando Joacine Katar Moreira afirmou que as feministas brancas não a representam, clarificando que o feminismo branco é elitista e racista, penso que ela estava a fazer referência à estrutura que mantém uma hierarquia racial, bem maciça e difícil de derrubar, ancorada na ideia de universalidade da experiência da mulher branca, alheando-se das vivências e opressões de outras mulheres. O feminismo branco e burguês procura privilegiar as questões da mulher branca de classe média, evitando uma perspetiva interseccional, que abarque, também, questões de classe e raça. Joacine Katar Moreira tem toda a liberdade e legitimidade de expor que uma estrutura que oprime as pessoas não-brancas e ignora as suas experiências e necessidades não a representa como mulher negra.
Considero que todas as feministas que se amotinaram contra Joacine Katar Moreira não o são verdadeiramente, uma vez que, ao fazê-lo, estão a excluir da sua causa todas as mulheres. Em vez de tecer sentenças arbitrárias, aconselho a que cada uma de nós procure entender a razão pela qual as suas afirmações ativaram tantos mecanismos de defesa. Torna-se necessário reconhecer, pelo caminho, o privilégio e neutralidade que vêm associados à nossa branquidade e ler obras de feministas negras e autoras que se dediquem ao feminismo interseccional, procurando entender e analisar críticas e outras perspetivas de forma construtiva e inclusiva.
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