Cartoon e Texto de Catarina de Carvalho Lopes
Autora da rubrica Cataestrófica
O termo meritocracia surgiu pela primeira vez em 1958, com o romance distópico "The Rise of the Meritocracy", do sociólogo Michael Young, sendo usado com intuito satírico, cariz que se foi perdendo com o tempo. A meritocracia é, hoje, assunto sério. Fala-nos do "sucesso" garantido através do esforço e talento. A verdade é que, nesta corrida, não partimos todos do mesmo lugar.
A pandemia veio, pois, exacerbar desigualdades que já existiam, desconstruindo esta ideia de imparcialidade e de condições igualitárias para todos quando tanto pesa o contexto, a localização geográfica, a classe, a etnia, a raça, o género e/ou a orientação sexual. Mostrou-nos quão essenciais são alguns trabalhadores que tantas vezes são explorados e encontram-se em condições precárias - tais como enfermeiros, trabalhadores de limpeza, estafetas, motoristas, etc. - e quão protegidas estão as elites tóxicas que detêm status, riqueza e poder.
Continuamos a viver na ilusão de que se nos dedicarmos bastante ao nosso trabalho, iremos ser recompensados pelo nosso esforço com as condições de vida dessas elites. Contudo, esquecemo-nos de que existem indivíduos que entram nesta competição injusta com um vasto leque de vantagens e privilégios. É necessário rejeitar a narrativa de igualdade de oportunidades e abordar as várias doenças que vingam neste sistema, marginalizando grupos, como o classismo, racismo, a opressão e o preconceito.
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