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Como podemos desenhar o futuro?

Em Portugal, com tantos problemas de desregulação do mercado de trabalho, impostos elevados, problemas na educação e saúde, falar de algo que acontecerá daqui a 20 anos parece algo inconcebível – especialmente quando temos um problema crónico em construir políticas de futuro.

de Francisco Paupério



Estas são projectadas em média a 3/4 anos. Curiosamente, grande parte dos problemas pode ser corrigido se for detectado atempadamente.



Sabemos do impacto da nossa pegada ecológica desde os anos 60 de forma científica e ainda temos a inércia de promover alterações, porque iria significar uma restruturação do mercado e da hegemonia de grandes empresas e países. Para além disso, políticas ambientais eficazes provavelmente afectariam a qualidade de vida dos portugueses, tendo repercussões políticas graves, ponto essencial que leva à inação da nossa classe política. Como podemos então desenhar um futuro de forma responsável e competente? Introduzindo melhores práticas na administração pública e diálogo parlamentar.



Primeiro, tem de haver uma estratégia nacional bem definida para o futuro. Esta deve resultar de um entendimento mais abrangente de gerações (com jovens a fazer parte das decisões), partidos e instituições. Só estando alinhados a este nível, será possível realizar reformas eficientes e progressivas, com o mínimo impacto negativo para a população e país. Será preciso informar as pessoas do porquê das mudanças, explicando as vantagens, de modo a reduzir o atrito da mudança.



Segundo, tem de ser incorporado mais rigor e competência no desenvolvimento de políticas públicas. Pode ser feito de várias formas, seja através do reforço de apoio parlamentar, ou de financiamento partidário para este fim. É necessário que os nossos partidos e políticos se habituem a realizar boas práticas científicas na elaboração de políticas públicas. Com isto, estaremos a promover confiança nas instituições políticas e públicas, contribuindo para a consolidação da comunidade portuguesa que levará a um aumento tanto dos níveis de participação política como dos índices económicos e de inovação.



Num mundo complexo, confuso e instantâneo, a fonte “vozes da minha cabeça” torna-se cada vez mais prática e comum. Com tanta informação disponível, começamos a deparar-nos com uma maior dificuldade em filtrá-la e em construir conhecimento. É urgente capacitar a classe política para melhorar a comunicação externa e o desenvolvimento e elaboração de políticas públicas. É, também assim, que se combatem os populismos, desinformação e o descrédito das democracias.


Terceiro, combinando as vantagens que a prevenção nos traz em relação à mitigação. Resolver problemas de raiz pode ser sensivelmente mais fácil quando o problema ainda é pequeno ou não existe. Utilizando práticas de pensamento sistémico, poderemos conseguir prever problemas e adequar sistemas ao ponto de ter pouco impacto actual orçamental/organizativo e ao mesmo tempo prever catástrofes com elevados custos no prazo de 20/50/100 anos.


Olhando para os temas de futuro, vemos o quão pouco estamos a fazer por eles no presente. Olhando também para o que a geração mais presente nas instituições/parlamento considera temas de futuro, vemos o desalinhamento com os da população mais jovem. Num país onde se vive para ter mais votos, não se pode esperar um grande futuro. No entanto, temos exemplos de pessoas de futuro. O meu desejo é que esses exemplos consigam inspirar e liderar a mudança, que tem inevitavelmente de acontecer se quisermos melhorar o país e a qualidade de vida das pessoas.



Em jeito de provocação, mas quando se fala em problemas de futuro, não devia a geração mais jovem estar directamente envolvidas nos processos de decisão e planeamento? É que curiosamente, quem vai viver com as suas consequências somos nós, mesmo. Políticas de futuro devem envolver pessoas de futuro (e o futuro das pessoas já agora).

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