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Consequências da falta de literacia, e de muito mais

Atualizado: 14 de fev. de 2022

Numa noite de verão, participei num festival de curtas-metragens na cidade do Porto. Na abertura da discussão sobre os filmes mostrados, que penetravam o espaço coletivo de valores e de conceitos preconcebidos, ouvi alguém dizer que vivia numa luta constante consigo própria com o fim de utilizar a comunicação mais adequada nas situações do dia a dia, ao mesmo tempo que explicitava o quanto era frustrante perceber que a sua descoberta pessoal sobre o que pensava ser o mais certo e o errado nunca chegaria ao fim.

de Raquel Batista





Senti naquele momento que também era assim comigo, por descobrir os preconceitos que tenho, continuamente, e o quanto preciso de me explorar para não ser ou vir a ser errónea para alguém. É por isso que hoje trago o tema da literacia, que considero ser de vasta importância na vida de todos.



1. O que é a literacia


Consta-se por literacia o resultado da ação de ler e escrever, entendendo a linguagem como prática social. Por conseguinte, os indivíduos apropriam-se da escrita, criticamente, com a finalidade de interagirem e agirem nos diversos contextos sociais. Por outro lado, este termo esclarece a falta de escrutínio existente na sociedade portuguesa, sobretudo ao ter em conta decisões que afetam seriamente a nossa condição como indivíduos.



É de grande urgência que a literacia se torne parte do ensino. É essencial, porque apela à melhor forma de comunicação criando uma perene ligação com os direitos do Homem e do cidadão, justificação para a escolha da imagem em si, mas já lá iremos.


Seguindo este raciocínio, é de igual importância uma reforma na educação pela intrínseca proximidade, tampouco porque já não vivemos nos anos 90, nem o ensino pode ser visto como um trabalho sine qua non, mas sim como uma conduta, por comportar consigo uma raiz forte de construir um mundo mais justo e melhor para quem lhe tem acesso.



O termo de "literacia histórica" - enquanto conjunto de competências de interpretação e compreensão do passado – associa-se à proposta de desenvolvimento da consciência histórica, tal como defendeu Peter Lee. A necessidade de orientação temporal exige identificações múltiplas, a várias escalas (do local ao global) e a consideração de pontos de vista diversificados.



2. A necessidade da literacia



O socialista Alexandre Quintanilha interveio, em 2021, sobre este assunto, manifestando-se desta forma: "Promover o conhecimento e a literacia em todos os domínios do saber será sempre a forma mais eficaz de lutar contra a insegurança, o medo e a mentira".


A frase "literacia em todos os domínios do saber" origina alguma estranheza relativamente à sua definição de origem, posto que, pela forma da palavra "literacia", associamo-la geralmente apenas a leitura, língua escrita com antes referi.



Todavia, o uso do termo "literacia" tornou-se notório pelo grande público aquando da divulgação, em 2001, dos resultados obtidos por Portugal no Programme for International Students Assessment - PISA 2000, da OCDE. O programa baseou-se na avaliação do nível de literacia de alunos de 15 anos, de modo a medir a competência dos sistemas educativos.

Os resultados obtidos expuseram as insuficiências do sistema de ensino português.



A debilidade da baixa literacia conduz a que os cidadãos vejam diminuídas as suas capacidades de participação na sociedade, e consequentemente, a sua adequação nela.



Hoje, a abrangência do conceito é mais lata e implica "compreender, usar, refletir sobre e envolver-se com textos escritos, de modo a prosseguir objetivos, desenvolver o conhecimento e o potencial e permitir ao indivíduo participar na sociedade" (PISA, 2009).



A falta da reforma na educação e a ausência do foco na literacia levam a que os jovens e adultos desconheçam a realidade do que os cerca, do mundo fora do seu aquário, do outro e dos outros.


3. Um exemplo de falta de literacia, ou de educação, ou então, as consequências do discurso de ódio


Rose vivia em Vila Real e todos os dias era ridicularizada na escola. Era uma rapariga que tinha nascido num corpo de rapaz. Sofria bullying na escola. Ouvia contra si palavras como:

“Paneleiro”, “Maricas”, “Vai-te embora daqui!”, “Monstro de merda”.



Segundo relatos de pessoas que conheciam Rose, juraram nas redes sociais que o ambiente em casa não era muito diferente, ao que o pai respondeu ser uma inverdade, que não existia discriminação nas quatro paredes.



Rose tinha 15 anos, e há uns dias, atirou-se de uma ponte em Vila Real.



É um exemplo que não faz jus à quantidade de histórias que não viram a luz do dia nas redes sociais, e muito menos nos media.



É um caso que gera gritos pela sobrevivência e crueldade do que é o ódio, a falta de literacia, de educação e de respeito, porque tudo anda ligado. É, sim, o exemplo do atraso cultural civilizacional, da falta de consciência e de cuidado com o outro, da discriminação de género, do atraso cultural, da falta de tanto.


O site "Internet Literacia e Educação para os Media Em Linha (LEME)" disponibiliza várias ferramentas de formação gratuita para a consciencialização deste tipo de temas. Sobre o discurso de ódio podem clicar aqui: https://vimeo.com/273743903.


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