Precisamos de estar atentas e atentos. Para com nossas amigas, irmãs, filhas, vizinhas, colegas, crianças. Se você sabe ou desconfia que alguma mulher no seu círculo social possa estar correndo o risco de sofrer qualquer tipo de abuso, ajude ela e contate imediatamente as autoridades.
Uma crónica Aspas Aspas de Mariane Rech, mestranda em Sociologia na FCSH
Aspas Aspas é o segmento do Crónico dedicado a crónicas dos leitores
Desde semana passada a #staythefuckhome vem fazendo sucesso nas redes sociais. Na noite do dia 18/03/2020, Portugal decretou Estado de Emergência, de forma que permanecer em casa virou um dever. Obviamente que esta foi uma boa medida adotada pelo Governo e imprescindível no caso em questão.
Entretanto, você já parou para pensar no horror que pode ser ficar em confinamento com alguém que já é, normalmente, abusivo? Seja física ou psicologicamente.
No caso chinês, houve um aumento exponencial de casos de agressão durante a quarentena - as denúncias chegaram a triplicar - e as autoridades portuguesas, temendo o mesmo, lançaram a seguinte mensagem: "O isolamento das famílias é necessário para a contenção da covid-19. Mas pode aumentar o risco de violência doméstica. Se precisar de ajuda, e não souber o que fazer, ligue 800 202 148."
O problema é o fato do abuso estar diretamente relacionado ao poder. Em casos de crise como o que vivemos atualmente, o abusador se aproveita da situação para isolar ainda mais a vítima e controlá-la em todos sentidos. Lembrando que as vítimas são, maioritariamente, mulheres e crianças. O isolamento social parece ser uma alternativa segura, mas para quem sofre violência doméstica, não é. O machismo é uma forma de violência que representa, à semelhança da covid-19, uma ameaça séria para muitas mulheres.
Portanto, precisamos de estar atentas e atentos. Para com nossas amigas, irmãs, filhas, vizinhas, colegas, crianças. Se você sabe ou desconfia que alguma mulher no seu círculo social possa estar correndo o risco de sofrer qualquer tipo de abuso, ajude ela e contate imediatamente as autoridades. Mostre que você está ali, com a mão estendida, sem julgamentos. Sair de um relacionamento abusivo é infinitamente mais difícil do que parece ser e normalmente envolve questões complexas como dependência financeira, por exemplo.
Se você sofre abuso, não hesite em pedir ajuda. Não tenha medo nem vergonha. A culpa não é e nunca foi sua.
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