Começa o ano. Temos um novo projeto. Este mesmo. Começa a década. Nesta temos vários, demasiados talvez.
Tanto a recear. Há tanto por onde correr mal. Há ainda mais por onde correr bem. Tanto a esperar por consequência. Se será bom ou mau só o tempo nos dirá.
Já vimos a nossa mão, falta ver que cartas a mesa nos reserva. Acima de tudo, temos oportunidades.
Surpreende-me a quantidade de possibilidades. De diferentes caminhos. De possíveis combinações do baralho. Que cartas nos esperam?
Estamos num momento crucial. Será que aprendemos a tempo que não se brinca com o fogo ou teremos de nos queimar primeiro? Já não há problemas localizados, crises regionais, tudo escala eventualmente para a arena mundial. A quantidade de informação sufoca-nos; deixando de ser claro quais os jogadores e os seus objetivos.
Uma década crucial. Onde tanto está prestes a eclodir. Onde as diferenças são avassaladoras. Numas coisas caminhamos para funcionarmos como uma família, noutras acentuam se cada vez mais as ditas. Onde parece que ainda não decidimos por que caminho continuamos. O que decidirmos será final pois como diz Robert Frost:
Oh, I kept the first for another day!
Yet knowing how way leads on to way,
I doubted if I should ever come back.
Está na hora de definirmos uma trajetória, chega de incertezas, de meias medidas, meias investidas. Se dermos algo exceto o nosso máximo, ficaremos aquém. Os caminhos começam se a apertar por falta de decisões, janelas fecham que se calhar não queríamos encerradas. A nossa inércia está a começar a afogar-nos.
Eu estou otimista, já aprendemos a nadar. Acho que caminhamos para um futuro bastante melhor. No entanto é necessário ter cautela, basta a pessoa errada, com o discurso errado para deitar tudo a perder. O mundo quer mudança, e este desejo está constantemente a ser instrumentalizado. Estamos a meio da escalada. A meio já não podemos cair.
Como o celebrado documentário de 2018 Free Solo, estamos numa escalada sem cordas de segurança. Todos os erros são fatais. Exige a concentração máxima. Todos os movimentos devem ser planeados meticulosamente. Tudo calculado, nada aleatório. A ascensão requer uma quase que meditação ativa, sem nos distrairmos com receios, com dúvidas, com debates internos e externos. A mesma é longa e ainda virão etapas para as quais ainda não estamos devidamente mentalizados. Algo essencial difere nesta analogia. Não conhecemos previamente o que nos espera.
O ambiente é um dos grandes desafios que se avizinha. Temos de conseguir olhar além do lucro a curto prazo para o mesmo a longo prazo; ou, no inverso, esta busca constante de lucro tem de ser repensada. Os gigantes da internet, que se tornam quase nações independentes, ninguém para os controlar, ninguém que tenha uma verdadeira autoridade sobre os mesmos. A crescente preocupação com a saúde e bem-estar das pessoas que nos aproxima mais do nosso equilíbrio físico. O advento das energias renováveis. A globalização, que impede, e espero que continue a impedir, as atrocidades em certas regiões do globo.
Todos estes pontos apresentam aspetos positivos e outros negativos. Como com todos os temas realmente significativos, não há respostas e muito menos resoluções simples. A década que se avizinha vai ser uma década de decisão. Voltando a Frost:
Two roads diverged in a yellow wood,
And sorry I could not travel both
And be one traveller, long I stood
And looked down one as far as I could
To where it bent in the undergrowth;
Também nós temos de fazer este exercício e tentar antever quais os resultados das diferentes opções e escolher um percurso. Sendo que apesar de nunca sabermos onde acabarão os mesmos, podemos, pelo menos, escolher aquele a que mais naturalmente virão consequências positivas. Estamos suficientemente preparados para estes problemas. O momento da preparação já passou, estamos no momento de agir.
Assim começa o nosso projeto. Neste simbólico início de década. Nestes anos 20.
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