Quem nunca se imaginou em altas festas com o Leonardo DiCaprio na Bolsa de Nova Iorque? Os mercados financeiros têm fama de intensidade, burnout e boémia, mas a verdade é que são uma peça fundamental nas transações das economias e das finanças.
de Beatriz Viana
Mas as complexas ordens de compra e venda, não são apenas para os investidores, acionistas ou empresários. Têm o dom da omnisciência, ensinam-nos e desmascaram comportamentos, pelo que me proponho a (insolicitadamente) partilhar dois conceitos financeiros, que se estendem a todas as camadas da vida terrena.
1. Front Running e Tailgating: nós é que somos os mais espertos, mas nem sempre pensamos pela própria cabeça.
A prática de front running é ilegal e considerada fraude nos mercados financeiros: o broker utiliza as informações privilegiadas e privadas do seu cliente sobre uma grande transação e antecipa-se nos movimentos e ordens de compra ou venda, alterando o preço dos ativos a favor do lucro próprio. Esta é a estratégia básica da esperteza gananciosa de que todos já fomos vítimas (ou culpados) na nossa existência nada bolsista: os segredos que não são guardados por mais de 15 minutos, a troca de favores e influências, ou (agora em bom português e sem estrangeirismos financeiros) o “passar a perna” ou “fazer a folha”.
Por sua vez, o tailgating não é punível, apenas moralmente incorreto: o broker movimenta o pedido do seu cliente e depressa segue-se a duplicar a ordem de compra/venda a título pessoal. Apesar da intenção do seu cliente ser pública, o broker acaba por beneficiar sem qualquer especulação ou risco próprio. Destaca-se aqui a esperteza parasita igualmente apreciada por nós, comuns mortais distantes de Wall Street: os projetos individuais que acabam assinados em grupo, as amizades por interesse, o “salta tu primeiro”, “deixa mas é ver no que é que aquilo vai dar”.
Atente-se no facto destas práticas não serem ambas ilegais, como que tornando o parasitismo mais nobre que a ganância. E surge a reflexão número 1: porque é que queremos ser nós os mais espertos, mas não pensamos pela nossa cabeça? Culpem Wall Street, que não acusa tailgaters.
2. Rentabilidade e Risco: a função utilidade do investidor para quem não arrisca, mas também não petisca.
Como boa temática económica e financeira que é, Wall Street não podia ficar de fora na capacidade de matematizar, modelizar e generalizar tudo aquilo que é do mais comportamental possível. Foco na função utilidade do investidor, que nos promete o mais sábio e erudito ensinamento que achávamos (até agora) ter tido origem no senso comum: rentabilidade é bom, risco é mau. Que esta afirmação escrita de forma tão banal e grotesca não nos impeça de analisar o fundo da questão ou de perceber exatamente porque é que os mercados financeiros nos ajudam a compreender a essência humana.
Um investimento desejado e valorizado apresenta um retorno elevado, isto é, o investidor acaba por ficar com mais capital do que aquele que inicialmente aplicou. Simples? O problema aparece quando a rentabilidade esperada está positivamente correlacionada com o risco do investimento que, trocado por miúdos, é a probabilidade de perder tudo.
Vamos às contas (que ainda estamos a falar de economia): rentabilidade é bom. Risco é mau. Mais rentabilidade é mais risco. As perspetivas estão pouco favoráveis ao investimento. Tendo em vista a solução de todos os males enunciados surge a função utilidade do indivíduo: que risco estou disposta a aceitar para a rentabilidade que desejo? Reescrevo (porque agora já não estou a falar de economia): que risco estou disposta a aceitar para a rentabilidade que desejo? Aconselho o leitor a fazer uma pausa e pensar a fundo nesta questão.
E, portanto, Wall Street aconchega mais uma vez na reafirmação dos valores morais e manias complexas, através de gráficos e funções derivativas. Para os comuns mortais que procuram ativos sem risco - os cautelosos, cuidadosos, ponderados (como eu!) - precisam de se conformar com o facto de que “risk-free”, em muitos casos, também implica que as recompensas sejam bem mais comedidas.
Certa de que já ouvimos por aí a expressão “prémio de risco”, está aqui a prova financeira do retorno obtido por/ao saltar de cabeça.
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