Editorial de António Vaz Pato
Director e editor
Não podemos deixar de viver
Esta semana, uma notícia no P3 dava conta de um aumento alarmante do número de casos de covid-19 no meio académico, sobretudo no Porto e em Aveiro. A notícia identifica como potencial causa de infeção dos estudantes festas de Erasmus, organizadas certamente com a melhor das intenções, para acolher aqueles que vêm do estrangeiro para estudar aqui no nosso pequeno Portugal.
A nossa cronista Sofia Escária prestou declarações ao Público esta semana enquanto presidente da Federação Académica de Lisboa, assegurando que os casos de infeção por covid-19 no ensino superior não tiveram origem nos espaços académicos das faculdades. Apesar do caso revoltante divulgado esta semana pela Brigada Estudantil, onde estudantes infectados com covid-19 nos SAS-UL revelaram as condições precárias do seu isolamento, a verdade é que as faculdades têm sido responsáveis no que diz respeito à adopção de medidas de contenção pandémica dentro das salas e dos espaços de estudo.
Portanto, não nos surpreende que estes casos tenham surgido num contexto de festa e de convívio descontraídos. De facto, entre os jovens, vai-se notando algum cansaço relativamente às novas regras de convivência num cenário pós-estado de emergência. É natural. Estes tempos não têm sido fáceis para todos nós. O distanciamento social (não o físico) leva inevitavelmente à solidão, à ansiedade e à depressão, problemas graves que grassam a nossa geração.
No entanto, em contexto pandémico, esse distanciamento social não se resolve através de actos de pura irresponsabilidade. Eventos como este parecem decorrer de uma situação de desespero com muita falta de noção à mistura. Uma boa parte dos jovens (como muitos adultos, aliás) não compreendeu ainda que o regresso à “normalidade” não será para breve. As projeções não são as melhores e, como tal, é imperativo usarmos a nossa capacidade de adaptação para nos habituarmos a uma nova “normalidade”, onde as nossas acções ganham um relevo ainda maior no que toca ao impacto que poderão ter em terceiros. A vida numa sociedade democrática exige-o e hoje, no meio de uma crise sanitário-económico-socio-ambiental, mais do que nunca.
Têm sido constantes os alertas dos peritos, desde o desconfinamento, para um cenário caótico se decidirmos confinar uma segunda vez. Sabemos, portanto, que não é uma alternativa para resolvermos o aumento exponencial do número de casos de covid-19 dos últimos dias. Por mais medidas de restrição e contenção que sejam criadas para evitar essa opção, nada disso valerá se não as respeitarmos. Temos de fazer um esforço para manter os espaços abertos e vivos, para que a a vida não pare mais uma vez. E devemos fazê-lo com consciência e altruísmo, sem nunca pôr em risco os outros. O egoísmo neste preciso momento não é solução para nada. Cabe também a nós, estudantes e jovens adultos, dar o exemplo. Temos muito mais a perder se não cumprirmos as nossas responsabilidades como cidadãos.
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