“Uma flor, uma pequena flor, que eu colhi, só a pensar em ti” - A letra da música de Entre Aspas é muito clarificadora e simples. Cantam, repetidamente, a recolha de uma flor para alguém, como prova do seu amor.
Tal como a banda Entre Aspas, António Costa também parece ter colhido uma flor e parece ter dado a quem mais ama. Apesar deste romance shakespereano ser secreto e quase tanto ou nada falado, é-me suspeito que o primeiro-ministro detém uma relação próxima, mas não adúltera, com a RTP. Daí, e seguindo o exemplo da vocalista, poderá ter-lhes oferecido uma Flor, uma Flor muito familiar, e não, não será o cravo.
Esta Flor potencialmente oferecida e duradoura, foi regada e manteve-se resiliente até à moderação de debates eleitorais e depois ao impedimento de programas desconfortáveis e incómodos em tempos de campanha eleitoral. Esta Flor cresceu ainda mais, a meu ver, quando começou a perder pétalas no outono. Soube-se, então, tudo isto, mas ninguém fez questão de falar muito. Não esqueçamos que é um assunto incómodo. Era noticiado nos programas de opinião pública que são indicados para reformados, que ninguém ouve, universitários que estão a acordar e, o melhor deles todos, para aqueles cafés raros que se esqueceram de pôr na CMTV, encontrando-se na SIC Notícias, sem som. O assunto é escutado por estes, sendo seguidamente enterrado nos enfados do dia a dia.
Não querendo ser tão incógnita como têm sido os telejornais e porque faço jus ao que o curso de comunicação me ensina, clarificarei o assunto em questão. Resumidamente, a conhecida jornalista Sandra Felgueiras detém um programa denominado de Sexta Às 9, onde apresenta reportagens de investigação sobre diversos assuntos. Felgueiras já tinha planeado uma reportagem para setembro sobre a exploração de lítio em Montalegre e a sua concessão. Nesta era evidenciada a mão ajudante de João Galamba e a sede do Partido Socialista de Montalegre, que era, por si, sede da empresa que executou a concessão, tendo sido fundada dias antes deste acontecimento. Ora, trata-se de uma investigação importante sobre o Governo, que iria estrear em tempo de campanha eleitoral. E aqui entra a Flor. Nessa sexta-feira às nove da noite, para qual a reportagem estava planeada, não houve programa. Com certeza que deixou muitos fãs e seguidores de Sandra Felgueiras desiludidos, mas isso não é sequer o mais sério.
Diz-se que todos os trabalhadores da RTP estavam ocupados a regar a Flor, pois esta requer muito trabalho e atenção. Que será mais prioritário do que assegurar a sustentabilidade de um ser vivo? E aqui não falo de Flor, mas sim de quem a ofereceu. Certamente, não será a reportagem, que evidencia os passatempos que João Galamba encontrou para usufruir em Montalegre. É de referir, também, que, alegadamente, um estudo sobre o impacto ambiental da exploração do lítio não foi executado antes da concessão, feita por esta recém empresa sediada no PS. Resta, então, uma questão não respondida desta ausência de estudo. Será o lítio prejudicial para a Flor?
Após a apresentação da demissão de Maria Flor Pedroso, diretora de informação da RTP, tenho a certeza que foi para casa, no seu carro, a cantar Entre Aspas: “Eu bem sei que fui longe demais/ Também sei que eu não farei mais”. Como sabemos, os romances de Shakespeare nunca acabam bem e são bem trágicos.
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