Para além das semelhanças físicas entre as irmãs, a suavidade com que trocam da guitarra para a bateria, da bateria para as teclas e das teclas para o microfone, pode tornar a sua distinção em palco uma tarefa difícil à primeira vista.
de Teresa Brito e Faro
Simplificando: por regra, costumamos encontrar Danielle no centro, com um especial talento para as cordas da guitarra (e vocais); Alana à esquerda, com teclas, guitarra ou percussão; Este, a irmã mais velha, à direita, reconhecível pela incontrolável “Bass Face” que, como poderiam prever, transparece sempre que toca o baixo.
O seu público-alvo é espelho da versatilidade da banda e do ecletismo da sua discografia. Em poucos anos, lançaram um dos melhores álbuns da década (não sou eu que o digo, é a Rolling Stone), tiveram várias nomeações para Grammys - entre eles, de Melhor Performance de Rock - e colaboraram no último álbum de Taylor Swift, evermore, protagonizando o enredo fictício que inspirou "no body, no crime".
Há cerca de um mês, apresentaram uma faceta que talvez nem as próprias imaginariam abrigar, no filme “Licorice Pizza”, de Paul Thomas Anderson. A protagonista é a irmã mais nova, Alana Haim, que se estreia na representação com o magnetismo e autenticidade que a sua personagem exigia.
A genuinidade da sua dinâmica familiar é garantida pela atuação de toda a família Haim - os pais, Donna e Moti, e as irmãs, Danielle e Este -, que, no ecrã, trocam apenas de apelido.
Como é que uma família inteira de músicos sem experiência na representação forma o elenco de um filme de Paul Thomas Anderson?
O premiado realizador é um antigo amigo da família Haim, responsável por alguns dos seus videoclipes. Para além de ter escrito o filme com Alana em mente para o papel principal, viu nos seus pais e nas suas irmãs a personificação do espírito de “Licorice Pizza”.
Fica claro que estes, simultaneamente, bebem da frescura da realização e contribuem de forma ativa para tornar este filme naquilo que aspira ser.
Ainda que com pouco tempo de ecrã, surpreendem, cena após cena, com humor, improviso e diálogos reais reproduzidos a partir de momentos passados à volta da sua mesa de jantar. O que nos chega das suas personagens é a mesma energia que transmitem quando fazem música –uma lufada de ar fresco que consegue ser nostálgica, uma pureza que abraça a novidade e desperta curiosidade.
Esta crónica não é uma crítica do filme, nem do trabalho da banda. É nada mais do que um grande aviso para quem ainda não se cruzou com talento que anda aí à solta sem muito alarido. Quer se percam com Haim no cinema ou no YouTube, com minutos infindáveis de concertos que vos farão invejar a plateia (e comprar bilhetes para o último dia do NOS Alive 2022), prometo que não vos deixarão indiferentes.
É inegável que existe uma vida pré-Haim e uma vida pós-Haim. Eu admito ter chegado tarde à festa, mas em 2022 começa a ser embaraçoso ainda não estarmos todos cá.
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