"Há meses que o meu prédio está em obras, acordo incomodada porque o barulho não me deixa dormir.
Na hora de almoço na capital as obras calam-se e eu consigo ouvir-me a pensar novamente. Só assim valorizo o silêncio e a paz do Alentejo, lugar onde sempre vivi.
No outro dia, à mesa, perguntei ao meu avô se ele já alguma vez caçara, era do que se falava naquele momento. Ele responde «cacei seres humanos». Calei-me.
Hoje em Lisboa, quando ouço o ruído das obras calo-me e agradeço por viver num tempo e num país em que o que se ouve ao acordar são betoneiras e martelos pneumáticos e não tiros e bombas."
Fotografia e Texto de Madalena Ventura
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