Apesar de ter visto apenas três episódios até agora, consigo já dizer que “How to With John Wilson” vem trazer algo de verdadeiramente novo a um formato que, fora honrosas exceções, se tem mostrado cansado.
Crónica de Guilherme Ludovice
Fico com a sensação que “Game of Thrones” terá sido a última série que todos vimos, ou que pelo menos todos ouvimos falar. Cada vez se criam mais séries por ano, o que permite que cada um tenha as “suas” séries, personalizadas ao seu gosto pessoal. Com o constante aumento da oferta agora cada um até pode ter o “seu” serviço de streaming. No entanto, não deixa de ser curioso que pareça que todas as séries que saíram ultimamente são dramas de liceu ou têm alguma coisa a ver com os czares. Por outro lado, as séries documentais parecem ser todas sobre assassinos ou grandes conspirações. Muitas não são boas, mas têm bom marketing e atraem. Vejo que, em consequência disso, tenho cada vez mais amigos meus a dizerem-me que deixaram de ver séries e, com isso, deixaram de perder tempo.
“How to With John Wilson”, é uma série documental de comédia da HBO. Chego até ela porque é produzida por Nathan Fielder, autor de uma das minhas séries de comédia preferidas “Nathan For You”. Apesar de ter visto apenas três episódios até agora, consigo já dizer que “How to With John Wilson” vem trazer algo de verdadeiramente novo a um formato que, fora honrosas exceções, se tem mostrado cansado. Recomendo vivamente.
Pronto, é só isto que tenho a dizer sobre a série a quem nunca a viu. Mais seria estragar, menos deixaria esta crónica com duas palavras. Se o leitor ainda não viu e tem uma subscrição com a HBO pedia, respeitosamente, que parasse de ler esta crónica e que visse o primeiro episódio. Não gostava nada de ser eu a estragar algo que ganha tanto em ser visto com o mínimo de informação possível, portanto, novamente, peço, por favor, a quem esteja a ler e que nunca tenha visto que saia deste belo site e que vá ver o primeiro episódio.
Enfim, agora que estamos só três (e os rebeldes que gostam de desobedecer a ordens de cronistas), sinto-me na liberdade de continuar de consciência tranquila. O conceito da série é simples: John Wilson ensina-nos a lidar com problemas que atormentam a sua vida. A série é gravada apenas com uma câmara que acompanha o cineasta enquanto este observa as ruas e os cidadãos de Nova Iorque. E é aí que nos são dadas as respostas. A edição das filmagens de Wilson casa com a narração de cada episódio de uma forma quase sobrenatural, como se este estivesse em controlo sobre todos os elementos que compõe a cidade de Nova Iorque. Mas, ao contrário de outras séries, a resposta não está numa macumba mística. O segredo para as narrativas não nos deixarem indiferentes está, simplesmente, na arte de observar.
Parece que, deixando a câmara a gravar indefinidamente e permitindo às pessoas com quem interage que falem sem contenção, a beleza, e a comédia, acabam por se revelar. Wilson coloca uma questão por episódio, questões estas que vão desde como meter conversa a como construir andaimes. Com os testemunhos e as imagens que nos mostra chega, invariavelmente, à resposta a estas grandes questões. O resultado final é sempre satisfatório e deixa-me contemplativo, como se de um bom guião se tratasse. Não é um documentário que se baseia em psicopatas ou histórias macabras. Mas isso não significa que não seja uma série estranha, simplesmente todos os níveis de estranheza vêm diretamente quotidiano. Um exemplo disto é a filmagem de Wilson que apanha o ator Kyle MacLachlan, estrela da série Twin Peaks, a não conseguir passar o seu cartão no metro de Nova Iorque.
É uma série única, estranha e deixa-me feliz só o facto de haver alguém que aposta nela. Toda a estranheza e simplicidade de andar pelas ruas e falar com pessoas é capturada através de um olho atrás de uma lente e, aparentemente, só isso basta.
コメント