Sistematicamente somos confrontados com imagens reais que retratam as consequências de um mundo repleto de assimetrias, injustiças e desigualdades que muitos nos comovem, mas que rapidamente esquecemos.
Crónica de Gonçalo Ferreira
A semana passada ficou marcada pelo fluxo migratório de mais de 8000 migrantes que, a nado ou a pé, entraram no enclave espanhol de Ceuta (e Melilla), originando uma vaga migratória sem precedentes.
Este fluxo é justificado como uma retaliação diplomática por parte de Marrocos devido ao facto de Espanha ter recebido, no final do mês passado, o líder dos separatistas saarauís da Frente Polisário (um movimento independentista do Sahara ocidental), Brahim Gali, para ser tratado a complicações graves de saúde provocadas pela Covid-19.
No entanto, as imagens que têm marcado estes acontecimentos são as que retratam um abraço dado por uma voluntária da Cruz Vermelha, Luna Reyes, a um migrante senegalês, instantes depois deste ter chegado a nado à praia do Tarajal e se ter emocionado, não só pela sua situação em si, mas também por ter um amigo inanimado a escassos metros de si.
Este gesto comoveu grande parte da comunidade internacional, mas também gerou, lamentavelmente, uma onda de insultos racistas e sexistas para com a voluntária da Cruz Vermelha, sobretudo vindos da extrema-direita espanhola, levando a jovem de 20 anos a alterar as suas contas nas redes sociais para privadas.
Também a imagem do resgate de um bebé de 2 meses por parte de um elemento do Grupo Especial de Atividades Subaquáticas Guarda Civil Espanhola, Juan Francisco, retrata a triste realidade das centenas de bebés e crianças que, sem terem a mínima consciência da sua situação, acabam por ser vítimas da tentativa de busca de melhores condições de vida por parte dos seus pais.
Nada disto é novo. Sistematicamente somos confrontados com situações reais, que retratam as consequências de um mundo repleto de assimetrias, injustiças e desigualdades que muito nos comovem, mas que rapidamente esquecemos.
Que imagens como estas sirvam para, pelo menos, evitar o esquecimento de questões tão basilares da própria Humanidade e para mostrar que, no meio da descrença e do desespero, haverá sempre alguém que agirá em prol da defesa dos Direitos Humanos, na busca por uma sociedade mais justa, igual e solidária!
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