Eu não sei ao certo o nome da mulher, terei de perguntar à minha avó, mas acho que é uma tal de Gusta, que com certeza se mantém a bacalhau. É-me um cheiro familiar, porque em pequena era eu quem demolhava o bacalhau à minha avó.
Crónica de Joana Garrido Amorim
Estudante da Faculdade de Economia do Porto
A minha avó Sãozinha vive numa aldeia de Viana do Castelo, em Mujães e mora numa rua onde ainda se demolha bacalhau.
Já não me lembrava disto, na verdade, há costumes que se tornam hábitos. Mas este fim de semana veio a chuva e passei a pé na rua da minha avó. A chuva e o tempo húmido avivam os cheiros e as memórias.
Ainda existe a mulher que demolha o bacalhau e muda a água duas vezes ao dia, despejando-a na rua. Quando o tempo está seco, a água evapora e o cheiro disfarça ou até não existe.
Quando o tempo está húmido, o cheiro persiste e faz jus à sua sentença.
Eu não sei ao certo o nome da mulher, terei de perguntar à minha avó, mas acho que é uma tal de Gusta, que com certeza se mantém a bacalhau. É-me um cheiro familiar, porque em pequena era eu quem demolhava o bacalhau à minha avó. Havia um tanque com uma mangueira e um balde preto muito fundo onde se demolhava o bacalhau. Punha-o cortado dentro do balde e enchia até cima. Depois mudava duas vezes ao dia. Empurrava o balde com o pé e segurava com uma mão, para a água escorrer e o bacalhau não se perder - fazia isto durante 4 dias. Não mandava a água do bacalhau para a rua, se o leitor perguntar. Tenho, no entanto, uma memória vivida deste cheiro.
Cheguei a casa e perguntei, “Ó mãe, a Gusta ainda deita a água do bacalhau para a rua?”.
Ao que me responde: “Cheirava?”
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