“Já está Licenciada? Parabéns, minha querida! E agora vai trabalhar onde?”
de Rita Chagas Dinis
Esta é a pergunta fatídica que assombra a vida daqueles que, como eu, se licenciaram recentemente e que têm jantaradas em casa de tios. Nunca sei responder e gostava genuinamente de ter uma resposta na ponta da língua. Mas o meu país não me permite que assim o seja.
A nossa geração vê-se cada vez mais impedida de ambicionar por uma vida estável. As razões? Bem as conhecemos e até as podia enumerar porque são efectivamente muitas, mas penso que isso seria assunto para uma outra crónica.
De uma forma ou de outra são poucos aqueles que fazem o percurso dito “normal” e que ficam em Portugal. A ambição é ir para fora, porque é lá que está a solução para a precariedade com que nos defrontamos cá.
Contudo, o percurso “normal” também nos é, de certa forma, imposto. Quase todos somos obrigados a querer competir para sermos os melhores e não “só mais um”. Mal daqueles que pensam sequer em não ir para uma faculdade. O sonho ilustre e intrépido que temos de querer singrar numa carreira e fazer o que gostamos cai por terra quando chegamos ao final de uma licenciatura e não conseguimos arranjar trabalho porque não temos “3 anos de experiência em Marketing”.
Esta constante inexperiência que nos é atribuída surge como um dos grandes entraves para entrar na vida dos adultos. Ficamos então entregues a avareza do mundo empresarial, fazendo estágios não remunerados para ganhar esta inglória, mas ambicionada experiência.
Para além de tudo isto, existe uma cultura instaurada que é tácita e está tão enraizada entre todos que já ninguém se questiona. A nossa fasquia fica sempre abaixo para não haver a mínima hipótese de frustração das nossas expectativas. Posso estar a ser pessimista para alguns, realista para outros, mas a minha amostra é esta. Não me tomem pela perspectiva errada, eu sou defensora de que devemos lutar por aquilo que queremos e ambicionar um futuro risonho, confortável e feliz.
No entanto, este futuro pode surgir (para quase todos) a muito custo. Tentamos ser resilientes, fazemos o que podemos, tiramos Mestrados e Doutoramentos na esperança que um dia tenhamos uma vida melhor que a dos nossos pais. O presente é meio lúgrube, mas vemos sempre a luz do futuro.
Se vos servir de consolo, podemos pensar na filosofia aristoteliana que, muito resumidamente, assume que o tempo não deveria existir, visto que nenhuma das suas partes constituintes existe.
O presente não tem princípio meio e fim, o passado já passou e o futuro ainda não é nada. Vivamos então o presente. Sejamos positivos, abdiquemos de tudo, é só isso que nos pedem.
Entretanto, vou para as aulas que já estou atrasada.
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