De Afonso Fortunato
Principiou a 5 de fevereiro a nova temporada de debates eleitorais pré eleições legislativas e com ele as tentativas de apurar “vencedores” em cada confronto, como se de uma prova desportiva se tratassem.
De facto, transpondo a realidade política para o paradigma desportivo, os debates seriam, no melhor dos casos, o equivalente a conferências de imprensa pré combate de MMA, com os intervenientes a prometerem ações além das suas capacidades, a interromperem continuamente, e com uma porção característica de masculinidade tóxica.
Tal como no desporto moderno, cada vez mais se verifica o recurso a ferramentas cuja principal função é assegurar a verdade e a justiça nos duelos.
Nesta categoria, o Polígrafo tem acrescido a sua influência como o vídeo-árbitro dos debates eleitorais, um João Kléber dos desacatos políticos, criado para privilégio da verdade, castigo da instrumentalização da mentira, e muito contestado pelos desmascarados.
Para aperfeiçoar a eficácia e evitar beneficiar o infrator, proponho para p futuro o fact-checking em tempo real, ou seja, cada vez que dados duvidosos fossem proferidos, o moderador gesticulava um retângulo na atmosfera, o tete-a-tete seria interrompido até confirmação da verdade, e o tempo de debate era posteriormente acrescido com os ditos descontos, uma palavra que assusta a IL e encanta o PS.
Oxalá o Livre não pretenda taxar esta automatização.
No final saía beneficiada a verdade, o eleitorado, os intervenientes diretos, e a avó de Mariana Mortágua, personagem fictícia mais mencionada nesta antevisão eleitoral, ultrapassando a mão invisível.
Aprimorando a corriqueira metáfora desportiva com recurso aos dados adiantados pelo Polígrafo no rescaldo do campeonato da oratória, elaborei uma tabela classificativa oposta à da Liga da Verdade, para a esfera política, em que lidera quem mais faltou à veracidade dos factos nos seus confrontos.
Por motivos de justiça no que toca à distribuição do tempo útil dos debates, o derby entre Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos foi excluído da análise.
A liderança isolada da competição foi ocupada pelo líder do partido extremista cujo diminutivo é uma onomatopeia que ordena o silêncio (CH), com 11 fugas à verdade, uma distância significativa em relação aos ocupantes da segunda posição.
Na redistribuição dos louros do segundo lugar tivemos a neta da avó mais célebre da temporada, líder do Bloco de Esquerda, e o antigo Ministro das Infraestruturas e Habitação que diz não saber “o que é que não funciona” no país, Pedro Nuno Santos, com um total de 5 falsidades cada.
Abaixo da linha de água ficou Rui Tavares. O Polígrafo registou somente 1 afirmação não verdadeira do líder do partido Livre e autor do livro “Não foi por falta de aviso”, que compartilha o título com um verso de Anselmo Ralph, mas não a visão enviesada do cantor.
Neste fecho de jornada, a não verdade verifica-se maioritariamente em casos de ataque ao líder partidário adversário.
Ao que aparenta, a abordagem mais honesta no debate passou pela defesa e explicação das próprias ideias, ao invés da afronta à galinha da vizinha, que se revela não ser muito pior que a “minha”.
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