Crónica de Tiago Cunha
Estudante de Direito
Quando é que uma luta merece ser lutada? Esta é uma pergunta para a qual a resposta não é consensual. A forma como lhe respondemos determina muito do que somos, de como atuamos e de como nos organizamos.
Na base da resposta à pergunta estão sempre razões de várias ordens: pragmáticas, idealísticas, instrumentais, etc; e é na ponderação de cada uma delas que nasce a resposta. Só isso explica que haja lutas idealisticamente perfeitas que suspendemos ou lutas pragmaticamente pouco defensáveis que valem a pena travar.
As Presidenciais de 2021 parecem ser este último caso.
Nestas últimas, prevê-se uma vitória confortável para Marcelo Rebelo de Sousa. Em democracia, as eleições dificilmente têm um foco único e, quando têm, raramente é um positivo. Por sabermos isso é que votamos em partidos que, à partida, não vencerão determinadas eleições, por exemplo. Nesse campo, as Presidenciais do próximo ano não são exceção: está mais em jogo do que a pessoa que será a próxima Presidente da República.
À cabeça jogam-se os projetos que defendemos para a sociedade e as prioridades que temos como essenciais. Neste parâmetro, a visão que a esquerda tem não é a partilhada por Marcelo Rebelo de Sousa. Nem a visão de Marcelo passou a ser a da esquerda, nem a da esquerda foi a adotada por Marcelo.
Depois, joga-se a forma como preparamos as possibilidades de futuro. Este é o momento decisivo para a esquerda decidir a forma como quer combater a extrema-direita: tomaremos a iniciativa, reforçando a existência do nosso projeto? Ou correremos o risco de, como em França, deixar à direita liberal o exclusivo da alternativa viável?
Para, como desejo, ser capaz de tomar iniciativa, a esquerda precisa de conjugar dois fatores:
Primeiro, o Partido Socialista tem que assumir que, quando se joga mais que o vencedor, é sinal de covardia escudar-se na impossibilidade de vencer para não participar. Mais ainda quando existem militantes seus a conjugarem capacidade e a indiciarem vontade para apresentar uma candidatura.
Como segundo fator, a esquerda do PS reconhecer que existem perigos criadores de narrativas que não justificam enfraquecer uma candidatura capaz de unir um espaço político vasto. Foi isso que se percebeu, por exemplo, em 1986 ou em 1996, permitindo que candidaturas da esquerda vencessem.
Perante esta conjuntura, a esquerda deve apresentar um candidato único. Precisamos de uma figura que seja capaz de mobilizar uma agenda progressista, de conhecer o funcionamento das instituições e com a experiência na sua defesa, através do seu empenhamento político e cívico. Esse perfil é o de Ana Gomes que, se assim desejar, deve ser a nossa candidata para lutar esta luta justa.
Comentários