De Duarte Amaro
“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades” é uma expressão ouvida diversas vezes no nosso dia-a-dia, no entanto até que ponto serve ao desporto em Portugal?
O ano mudou, é certo, mas a discussão sobre o cenário competitivo em Portugal, acima
de tudo no futebol, mantém-se. Mantém-se porque a postura dos seus intervenientes
não altera e, quando altera, a tendência mostra-nos que é para pior.
Num momento em que tanto se discute a importância do jornalismo na democracia, há
um desafio que suscita diversas questões quanto à integridade do jornalismo desportivo:
será o futebol um desporto antidemocrático?
A título de exemplo podemos até analisar um momento que não se passou no futebol, mas que demonstra o clima hostil que se vive em Portugal. E, convenhamos, podia ser perfeitamente adaptado ao mesmo.
A final da taça da liga de Futsal entre Sporting e Benfica é um exemplo claro do que aqui
escrevo: no fim do jogo, um jornalista foi intimidado pela escolha de capa da crónica que
escreveu. Imagine-se um jornalista ter de dar justificações, após ser insultado, pela capa
que escolhe.
Esta pressão exercida pelos clubes sobre os jornalistas é uma realidade constante em
Portugal.
Limita a liberdade de expressão e representa um desafio significativo para o
jornalismo desportivo.
Sei que a linha entre clubes e jornalistas é bastante ténue e que os primeiros têm a (falsa) ideia de que o jornalismo se deve reger pelos seus interesses.
Sendo certo que quando isso não acontece, começam os insultos e as provocações. Vemos treinadores a insultarem jornalistas, colocando em causa a sua imparcialidade.
Vemos treinadores a não comparecerem em conferências de imprensa. Vemos dirigentes
a agredir verbal e não verbalmente jornalistas.
Esta realidade é algo transversal ao futebol em Portugal, estando enraizado na nossa
cultura e na forma como vivemos o desporto.
O que nos custa a perceber é que este ambiente afeta não só o futebol português, como a qualidade e credibilidade do jornalismo desportivo. E que a consequente hesitação dos jornalistas em abordar diversos temas ou fazer certas críticas construtivas enfraquece a qualidade da informação.
Neste contexto, entidades como o Sindicato dos jornalistas acabam por ter um papel
crucial e devem ter uma mão firme quando existe uma tentativa de desvalorizar o papel e
o trabalho do jornalismo.
Também do lado dos clubes, onde muitos possuem jornalistas dentro de casa, deviam ter esta consciência.
Muito se diz que o desporto é um espaço de ética e fair-play. No entanto, até que ponto
isso existe no futebol? Celebramos exemplos pontuais de comportamentos que
beneficiam o desporto em Portugal. Contrariamente, pouco condenamos faltas de
respeito que acontecem quase todas as semanas.
Sabendo o poder que o futebol tem na sociedade portuguesa, este devia ser o primeiro espaço a respeitar o papel do jornalismo na sociedade.
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