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Mais um dia cá no burgo

Atualizado: 24 de set.

De Duarte Amaro

“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades” é uma expressão ouvida diversas vezes no nosso dia-a-dia, no entanto até que ponto serve ao desporto em Portugal?

O ano mudou, é certo, mas a discussão sobre o cenário competitivo em Portugal, acima

de tudo no futebol, mantém-se. Mantém-se porque a postura dos seus intervenientes

não altera e, quando altera, a tendência mostra-nos que é para pior.


Num momento em que tanto se discute a importância do jornalismo na democracia, há

um desafio que suscita diversas questões quanto à integridade do jornalismo desportivo:

será o futebol um desporto antidemocrático?


A título de exemplo podemos até analisar um momento que não se passou no futebol, mas que demonstra o clima hostil que se vive em Portugal. E, convenhamos, podia ser perfeitamente adaptado ao mesmo.

A final da taça da liga de Futsal entre Sporting e Benfica é um exemplo claro do que aqui

escrevo: no fim do jogo, um jornalista foi intimidado pela escolha de capa da crónica que

escreveu. Imagine-se um jornalista ter de dar justificações, após ser insultado, pela capa

que escolhe.


Esta pressão exercida pelos clubes sobre os jornalistas é uma realidade constante em

Portugal.


Limita a liberdade de expressão e representa um desafio significativo para o

jornalismo desportivo.


Sei que a linha entre clubes e jornalistas é bastante ténue e que os primeiros têm a (falsa) ideia de que o jornalismo se deve reger pelos seus interesses.


Sendo certo que quando isso não acontece, começam os insultos e as provocações. Vemos treinadores a insultarem jornalistas, colocando em causa a sua imparcialidade.

Vemos treinadores a não comparecerem em conferências de imprensa. Vemos dirigentes

a agredir verbal e não verbalmente jornalistas.


Esta realidade é algo transversal ao futebol em Portugal, estando enraizado na nossa

cultura e na forma como vivemos o desporto.


O que nos custa a perceber é que este ambiente afeta não só o futebol português, como a qualidade e credibilidade do jornalismo desportivo. E que a consequente hesitação dos jornalistas em abordar diversos temas ou fazer certas críticas construtivas enfraquece a qualidade da informação.


Neste contexto, entidades como o Sindicato dos jornalistas acabam por ter um papel

crucial e devem ter uma mão firme quando existe uma tentativa de desvalorizar o papel e

o trabalho do jornalismo.


Também do lado dos clubes, onde muitos possuem jornalistas dentro de casa, deviam ter esta consciência.


Muito se diz que o desporto é um espaço de ética e fair-play. No entanto, até que ponto

isso existe no futebol? Celebramos exemplos pontuais de comportamentos que

beneficiam o desporto em Portugal. Contrariamente, pouco condenamos faltas de

respeito que acontecem quase todas as semanas.


Sabendo o poder que o futebol tem na sociedade portuguesa, este devia ser o primeiro espaço a respeitar o papel do jornalismo na sociedade.

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