O Movimento Campus Seguro surgiu como uma resposta por parte dos estudantes ao clima de insegurança que se instalou no Campus nos últimos tempos, através da sensibilização e da construção de soluções para os respetivos problemas
Texto de João Moreira da Silva
No dia 28 de Dezembro de 2019, foi vítima de homicídio um antigo estudante da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, na sequência de um assalto ocorrido nas imediações da mesma. Nos meses anteriores a este acontecimento, foram frequentes os relatos de casos de assaltos, assédio sexual e prostituição no campus da Cidade Universitária de Lisboa, sendo esta a realidade quotidiana dos estudantes das Faculdades desta zona que circulam no Campus a horas tardias. O homicídio do antigo estudante foi o culminar destes eventos criminosos no Campus. Tornou-se necessário reagir.
No dia 5 de Janeiro, as Associações Académicas e de Estudantes da Universidade de Lisboa reuniram-se para emitir um comunicado conjunto, apresentando uma nota de repúdio ao sucedido e soluções imediatas para o problema da insegurança no campus: mais policiamento e mais iluminação. No entanto, apesar do comunicado ter ganho alguma atenção por parte da comunicação social, este pecava por não ser suficiente para alertar as entidades competentes para a urgência na resolução deste.
No dia 10 de Janeiro, as 16 Associações da Universidade de Lisboa uniram-se com um objetivo comum – garantir a segurança no Campus Universitário. Foi criado o Movimento Campus Seguro.
O Movimento Campus Seguro surgiu como uma resposta por parte dos estudantes ao clima de insegurança que se instalou no Campus nos últimos tempos, através da sensibilização e da construção de soluções para os respetivos problemas. Foram apresentadas como propostas a criação de uma Comissão “Campus Seguro”, para análise do plano de segurança nos campi universitários, o estabelecimento de uma via de contato direta para reportar casos de insegurança no Campus, assim como o investimento na iluminação e na vigilância do mesmo.
Com a partilha do Movimento e do respetivo manifesto nas redes sociais, tornou-se necessário levar as preocupações dos Estudantes à rua, de forma a sensibilizar a opinião pública. E assim nasceu a iniciativa Iluminar o Campus, marcada para dia 14 de Janeiro.
A fase de sensibilização do Movimento Campus Seguro passou pela mobilização dos Estudantes de Lisboa para a Alameda da Universidade, em frente à Reitoria da Universidade de Lisboa. Pelas 18 horas do dia 14 de Janeiro, mais de 100 Estudantes ligaram as lanternas dos telemóveis para iluminar o campus. O gesto simbólico foi uma chamada de atenção para uma das medidas propostas, na qual eram exigidas precisamente melhores condições de iluminação na área universitária.
No espaço de tempo de 9 dias, desde o lançamento do comunicado até ao Iluminar o Campus, as Associações Académicas e de Estudantes de Lisboa conseguiram sensibilizar milhares de estudantes, professores e interessados na segurança dos campi universitários. A comunicação social nacional acompanhou e relatou o processo desde o início, permitindo que o movimento chegasse a mais pessoas em todo o país.
Terminada a fase de exposição dos episódios de insegurança no campus e da sensibilização da opinião pública através da comunicação social, caberá agora ao Movimento Campus Seguro executar as soluções que propôs através do diálogo com as autoridades competentes, nomeadamente a Reitoria da Universidade de Lisboa e a Câmara Municipal de Lisboa.
Por fim, deixo uma nota pessoal, enquanto um dos dirigentes associativos que impulsionou o Movimento Campus Seguro. Acredito que a iniciativa representa aquele que deve ser o foco do movimento associativo estudantil. Sendo que as Associações Académicas e de Estudantes não detêm o poder legislativo e executivo, cabe a estas ter o papel de sensibilizar as entidades que detêm este poder para efetivar as mudanças necessárias.
A maior parte das centenas de estudantes que apoiaram e partilharam o movimento pelas redes sociais não compareceu no movimento Iluminar o Campus. Não pretendo com esta afirmação julgar e criticar quem não compareceu no dia 14 e se limitou a clicar no like do Instagram. Pelo contrário, prefiro louvar os mais de 100 estudantes que, como eu, acreditaram que é através da participação ativa nos movimentos que se faz a diferença e não atrás do teclado. Acredito que serão estes mesmos estudantes a marcar a diferença no futuro do país. O facto de um movimento ter, no espaço de 5 dias, sensibilizado tantas pessoas a nível nacional demonstra o poder que os Estudantes, quando unidos por um objetivo comum, podem ter. Ao contrário do que muitos pregam, o movimento associativo estudantil não está morto – mas cabe aos Estudantes reanimá-lo diariamente.
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