De repente, fez-se luz na minha cabeça: não será um pouco suspeito o aumento exponencial dos praticantes deste desporto esteja intimamente ligado com a declaração de Estado de Emergência em centenas de países?
Crónica satírica de João Moreira da Silva
Estudante de Direito, FDUL
Numa altura em que é louvado em todo o lado o facto do ar das cidades estar cada vez mais puro, com as emissões de gases poluentes a descer drasticamente, seria de esperar um ar de luxo para respirarmos quando saíssemos de casa. Uma espécie de pay to breath, em que só podemos aceder a este ar especial se formos utilizadores premium da página (também teríamos direito a uma newsletter semanal sobre como inspirar e expirar de diferentes maneiras).
Não podiam estar mais enganados. Os cientistas podem ter notado que, de facto, houve uma diminuição drástica da circulação de carros após o início da quarentena que reduz a emissão de gases poluentes nas cidades. No entanto, não tiveram em conta um fator crucial: a emissão de gases poluentes emanados pelos joggers. Esta espécie, conhecida entre todos nós, tem vindo a proliferar-se pelo mundo fora mesmo antes do início da pandemia, desde os praticantes nos jardins do Central Park aos maratonistas que correm ao longo do Rio Sena.
No entanto, houve uma subida exponencial dos joggers desde que foi declarada uma pandemia mundial pela Organização Mundial de Saúde. Milhares de seres humanos, após anos de inatividade, decidiram que a melhor altura para levar o seu corpo a percorrer longas distâncias pelas cidades fora seria quando lhes pediram para ficar fechados em casa.
Comecei a pensar no assunto. Já todos reparámos nestes amantes da corrida à beira-rio, que culmina com uma selfie tirada com um ar vencedor anunciando o número de quilómetros percorridos. “Hoje foram 5, amanhã há mais!”, anuncia o jogger à sua rede de amigos do facebook, certamente expectantes pela leva de amanhã. “Serão 6? Ou será que ele vai correr 7 quilómetros amanhã?!”, pensam os seguidores para si, levando a severos casos de insónia – não é fácil dormir descansado quando se convive diariamente com campeões deste desporto de rua nas redes sociais.
Continuei a pensar mais um pouco no tema. É um assunto complexo, não deve ser tratado com a leviandade que vejo muitos a fazê-los. Não se trata de criticar o fenómeno do jogging na quarentena, mas de compreendê-lo e saber interpretá-lo. De repente, fez-se luz na minha cabeça: não será um pouco suspeito o aumento exponencial dos praticantes deste desporto esteja intimamente ligado com a declaração de Estado de Emergência em centenas de países?
Como não acredito em coincidências – acredito no que vejo – procedi a um trabalho de pesquisa que me tirou horas de sono e me causou problemas com a minha mulher. Noite após noite, fiquei horas à frente do ecrã do computador. As peças começavam a juntar-se. “Carlos, já são 5 da manhã, vem para a cama”. Não podia ir para a cama. Estava quase a descobrir a verdade – se houver uma. Quem são estes joggers? O que é que eles querem de nós?
Comecei a tirar algumas conclusões com base em artigos que fui encontrado na internet, em sites fidedignos. Não revelo as minhas fontes porque, como digo à minha mulher “o segredo é a alma do negócio”. Mas revelo as minhas conclusões. Pode justificar-se que a subida do número de praticantes de jogging tenha a ver com um sentimento de clausura das pessoas – face à sua inatividade, sentem maior necessidade de serem os Usain Bolts da Junta de Freguesia do Areeiro.
Vou ser sincero: eu não compro esta teoria. Não acredito nesses ‘peritos’ das áreas de psicologia, sociologia e de outros cursos fictícios criados para dar emprego a meia dúzia de indigentes. Acredito nos factos.
Na minha pesquisa, acabei por ir parar a vários sites de marcas de material de desporto, por estarem diretamente ligadas ao fenómeno do jogging. É nestas lojas que os praticantes compram os seus ténis e outros acessórios necessários para a selfie vencedora. Dei por mim no site de lojas como a Decathlon e a Sport Zone. Não pude deixar de reparar num fenómeno que parece ser passado ao lado destes ‘peritos’: a grande maioria dos seus produtos estão esgotados – não apenas os de jogging.
Estaria a mentir se dissesse que isto não foi um choque. Depois de horas e horas de pesquisa, venho a descobrir que se trata de um fenómeno muito maior. Muito maior que eu, que a minha mulher (que, entretanto, me abandonou ao fim de 3 semanas do que ela chamava uma “obsessão”) e que a humanidade em geral. Não eram apenas ténis. Eram halteres de diferentes pesos, cordas para saltar, barras de elevações.
Depois do fenómeno da procura do papel higiénico no início da quarentena, que teve uma grande exposição mediática, seria de esperar que a mass media também cobrisse este fenómeno. Nada disso. Ninguém sabe disto. Liguei a centenas de profissionais das áreas de material desportivo e a resposta foi unânime: todos me disseram que nenhum jornalista os contactou na sequência desta autêntica corrida ao haltere.
Ora, eu não sou um adepto de teorias da conspiração porque estas não se baseiam em factos. Mas desta vez, parece-me que tinha os factos todos comigo. Aliás, depois de ler este texto até aqui, já começará a parecer óbvio. Os mais astutos certamente já terão percebido – talvez até sem ler estes parágrafos. Vou dizê-lo, sem medos nem rodeios: tenho provas claras para afirmar que a origem do vírus covid-19 foi obra do lobby da indústria de material desportivo. Abram os olhos.
Texto satírico
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