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O meu ministro é melhor do que o seu

As eleições legislativas de 2019 permitiram-nos assistir a um bonito momento em que, durante um debate, Rui Rio e António Costa discutiam qual dos seus putativos ministros das finanças era melhor. Depois de Mário Centeno ter ficado conhecido como o Ronaldo das finanças e se ter tornado num dos trunfos da campanha de António Costa, Rui Rio decidiu que não podia ficar atrás: "O Dr. António Costa tem um Mário Centeno, mas eu também tenho o meu Mário Centeno." disse Rui Rio, referindo-se a Joaquim Miranda Sarmento, o economista e professor que dirigia o Conselho Estratégico Nacional do PSD para a área das Finanças Públicas.

de Nuno Can



Motivados pela força da “bazuca”, muitos têm dito que as próximas eleições são sobre o futuro do país, sobre um país mais produtivo e com um elevador social reconfigurado. Se assim é, espero que os diferentes candidatos exponham o que farão para que possamos dar um passo em frente nas políticas de Educação e nas políticas para os jovens no contexto dos debates agendados. Sem isso, o debate será sobre o futuro do país, mas nunca sobre um país do futuro. Se quiserem, poderão igualmente avançar com nomes para o Ministério da Educação ou para o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior.


Quem tem o melhor plano para se recuperar as aprendizagens perdidas durante o tempo do confinamento? Quem vai dizer aos alunos pobres e sem mães licenciadas que lhes vamos, finalmente, garantir condições de aprender tanto como os seus colegas? Quem é o Ministro que vai conseguir resolver os vários problemas com as carreiras dos professores e com a contratação? Quem vai arranjar uma solução para que se aumente o investimento no ensino superior e seja apelativo fazer investigação e ciência em Portugal?

No fundo, quem é que vai construir um país do futuro? Sem estas respostas, não o haverá certamente.


Neste ponto uma grande responsabilidade recai sobre os órgãos de comunicação social, pela necessidade de colocarem perguntas sobre o tema. Idealmente, perguntas que ultrapassem a comparação dos milhões e que descartem as habituais disputas sobre os méritos e falhanços do passado. Os milhões são importantes, mas a forma como serão aplicados não fica atrás. O passado não é irrelevante, mas a discussão é quase sempre muito cinzenta e traz pouco de construtivo.


Num debate em que falte a Educação, faltará tudo, assim, quando me sentar no sofá a ver os debates, quero ouvir frases como "o meu Ministro da Educação e o meu plano são melhores do que os seus". Para além do importante debate sobre o salário mínimo, há um debate importante sobre a Escola Pública ou sobre a Educação Privada e os Contratos de Associação. Para além do IRS, é preciso falar sobre os mecanismos de ação social para os alunos. Para além dos acordos e coligações, é preciso falar sobre os 30 mil professores que será necessário contratar até 2030.


Se os últimos tempos nos têm obrigado a falar da Saúde, também é verdade que as crianças que estão hoje no 3º ano ainda não tiveram um ano escolar normal e que todos os jovens aprenderam menos do que deviam. Não falar sobre o assunto e não apresentar soluções é ignorar uma geração.

De facto, são muitos os temas, porém, os jovens e os seus pais vão querer ver essa meia hora acrescida de debate, esperando até pelo intervalo publicitário porque sabem, ou tentam manter a esperança de que será a Educação a mudar a sua vida. Finalmente, como estratégia para mobilizar os jovens para a democracia e para votarem, suspeito que seja mais eficiente falar-lhes sobre estes temas do que tentar campanhas de apelo ao voto, técnicas de comunicação da moda e tweets polémicos.


Que aos moderadores, aos órgãos de comunicação social e aos candidatos não lhes falte a Educação nestas legislativas. E que se a eles lha faltar, que não nos falte a nós quando votarmos.

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