De Pedro Brites
O Real é o novo campeão da Champions League. Fim de crónica.
Como pessoa que vê, no Real Madrid, a origem de todos os males futebolísticos do mundo, não deixa de ser custoso relembrar, pela enésima vez, que esta equipa que joga de coroa e manto, faz das finais da Ligas dos Campeões uma mera formalidade.
Aliás, arrisco-me a dizer que nunca aceitaria um convite para beber chá com o Florentino Pérez porque suspeito que, numa das divisões de sua casa, exista um estaminé de bruxaria montado.
Só isso explica a forma como esta equipa lida com estes jogos. Jogam mal, jogam bem, rematam mais, rematam menos.
No final, os de branco ganham porque uma força mística qualquer assim o diz. Se o jogo está apertado como esteve hoje, os homens de camisola branca aguentam, vendo o seu guarda-redes defender sucessivos remates.
Se o jogo está a parecer uma miragem para os adeptos do Real, o destino logo trata de retificar esse mal-entendido e põe tudo em ordem de novo, dando-lhes um golo caído do céu ou um pontapé de bicicleta ao ângulo.
Comecei a escrever esta crónica assim que o Dortmund chegou ao intervalo sem estar a ganhar. Estava a começar a parecer que ia ser tudo como é sempre.
Eu ainda me lembro de quando me deixava enganar – “Ah hoje o Real está a jogar mal, é desta” – e achava, com uma segurança que hoje me faz rir, que ia mesmo assistir ao fim de um era que, aos dias de hoje ainda estou à espera.
Para se perceber o nível de ridículo que isto atingiu, o Real, se apenas tivesse ganho Ligas dos Campeões no século XXI, teria tantas como o atual segundo maior vencedor. Desde 13/14, o Real ganhou 5 em 11.
Isto dá a ideia de que, se me juntasse com mais meia dúzia de amigos meus e fizéssemos uns treinos no Bernabéu, estávamos prontos para levantar a 16ª ou a 17ª. As peças alinham-se sempre.
O puzzle fica completo e a inevitabilidade é, passo a redundância, inevitável. Jogar uma final destas contra o Real é como estar num carro sem travões a descer rumo a um penhasco.
Até podemos achar que estamos a ir devagar e que vamos conseguir fazer o ponto de embraiagem a tempo, mas a realidade dá-nos uma estalada que nos atira pela ravina abaixo.
Se nada me deixa feliz quando o Real confirma o seu estatuto de vencedor nato, o consolo que tento encontrar passa pelo facto de ver jogadores como Modric e Kross a confirmarem o seu estatuto de realeza no desporto. São maestros num desporto de música pop. Fico feliz por ver uma despedida como a do Kross, saindo pela única porta grande o suficiente para o deixar passar.
Em sentido inverso, não raras vezes pensarei na existência de um multiverso em que o Reus e o Hummels se vingam de 2013 e saem de sorriso na cara. A exibição do central alemão é de gala e merecia ter sido recompensada com um dos vários golos falhados pelos alemães.
Enquanto equipa, o Dortmund é a antítese do Real.
Nos momentos derradeiros, nunca nada pende para o clube alemão. Na sua página de Twitter, a equipa que firmou uma parceria com uma fabricante de armas que produz armamento para o exército israelita, escreveu “Football isn’t a fairytale and there aren’t always happy endings.”.
Para pena dos seus adeptos, esta frase estaria mais correta se não existisse a palavra “always”. Em 2013, caem aos 90 com o maior rival. No ano passado, não superam o Mainz, em casa, para serem campeões ao fim de 10 anos de domínio do Bayern. Este ano, desperdiçam várias oportunidades de golo na primeira parte da final da Liga dos Campeões que haveriam de perder. Parecem destinados a falhar e a sofrer.
Mais uma final de jogou. Mais uma vez, o Real venceu. Da mesma forma que acordamos todas as manhãs, com mais ou menos sono, o Real venceu.
É o habitual. Dá-me urticária dizê-lo, mas é o que é. Aquela camisola branca devia ser investigada porque este fenómeno carece de explicações lógicas.
Parabéns ao Real e aos seus jogadores.
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