“Vamos ter 11 suínos na AR, entre eles, um terrorista assassino de extrema-direita. A luta não será na AR mas na rua! Preparem-se!” Não, ao contrário do que a maioria poderá julgar, a frase não é uma tradução de um tweet do ex-presidente norte-americano Donald Trump. Mas se fosse pergunta para queijinho, teriam meia resposta certa: é de facto um tweet, mas de Mamadou Ba, dirigente da Associação SOS Racismo.
de Sofia Florentino
Ao ler somos instantaneamente inundados pela memória dos protestos que no ano passado deram origem à infame invasão do Capitólio estadunidense. Esta que bem podia ser uma declaração de guerra tem sido uma das reações de destaque face à recém-eleição de mais 11 deputados do Chega – os supostos “suínos”, (que acumulam também os cognomes de fascistas, racistas, precursores do discurso de ódio, etc…).
Mas o discurso de ódio é daquelas coisas engraçadas que só o é quando são os outros a fazer. Quando são os próprios, trata-se sempre de defesa dos direitos humanos, liberdade de expressão ou outra bandeira qualquer. Pelo que tweets como estes continuarão a ser lançados, sem qualquer consequência, mas quando os “outros” se expressam, correm o risco de serem expulsos das redes sociais (ou já não nos recordamos de quando Trump foi banido pelo Twitter por incitar à violência?).
Duplos padrões à parte, assustam-me mais declarações de guerra pública do que os 11 “suínos” na Assembleia da República que vêm fazer companhia a André Ventura. É que fazendo as contas, 12 deputados em 230 têm pouca capacidade de fazer estrago, principalmente num cenário de maioria absoluta socialista. E se de facto forem tudo o que o autor promete, o povo português poderá mandá-los para casa nas próximas eleições. Mas não basta que os deixemos mostrar as suas verdadeiras “cores”, temos de apresentar uma alternativa melhor.
Perigoso em democracia é que ao invés de apresentar alternativas credíveis ou argumentos construtivos contra o Partido Chega – o que até não deverá ser difícil visto que apenas tem 9 páginas de programa para refutar – da esquerda à direita, a oposição insiste em ataques de guerrilha, sem fundamento e completamente incendiários.
O combate de boxe falado que Joana Amaral Dias encetou contra a recém-eleita deputada Rita Matias, é outro exemplo deste histerismo sem argumentos. Amaral Dias, veterana destas andanças cilindrou completamente uma jovem que, pertença ao partido que pertencer, manteve calma e serenidade.
O resultado foi que entre os gritos e olhos fulminantes da primeira, ninguém saberá dizer sobre o que se tratava o debate. Feminismo? Matias declarou-se como antifeminista, porque sabia que ia fazer correr tinta, mas em boa verdade é uma feminista em moldes conservadores. Já Amaral Dias, que se afirmou feminista convicta, faltou às aulas de sororidade feminina e atacou a deputada até dizer chega.
Já vários o disseram, mas eu vou repetir para a fila de trás: “Não é assim que se derrota o Chega.” Não é com ameaças de guerra nas ruas que, além de vazias, não chegam sequer para chatear André Ventura – que até agradece a publicidade –, nem é a fazer bullying desenfreado a raparigas de 23 anos em plena televisão nacional, que se derrota um partido. Nesta altura da competição até já começo a achar que o fazem de propósito para aumentar a popularidade do Chega.
A verdade é que o Chega continua a crescer e é hoje a terceira força política em Portugal, algo que muitos versaram ser impossível. Com um crescimento exponencial de 452,26 % relativamente às legislativas de 2019, em contraposição com o desaparecimento de partidos fundadores da democracia portuguesa, como é o caso do CDS, é uma realidade que não pode ser ignorada. É um sintoma da desconfiança dos eleitores em relação às instituições democráticas, da descrença no sistema atual e da incapacidade de este responder às suas necessidades e preocupações. É mais do que um simples deputado, mais do que um partido, é a questão da sobrevivência do sistema democrático como o conhecemos.
Se esta também é uma luta de valores, não podemos abdicar dos nossos para fazer frente a um partido que acusamos de não os ter. Se eles gritam, a solução não será gritar mais alto. Se eles são maus, quem não apresenta críticas construtivas ou respostas alternativas, é o quê? É a corte que fará a coroação do triunfo dos 12 “suínos”.
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