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Open House Lisboa: Os detalhes de uma cidade


O processo auditivo destes podcasts é uma busca constante por detalhes, histórias e perspectivas que fogem à percepção do transeunte menos atento. E o resultado ficou registado nestas fotografias que vos trazemos.



Texto de António Vaz Pato

Estudante de Biologia, FCUL


Fotografias de Matilde Almeida

Estudante de Engenharia Biológica, IST



A reinvenção e os novos formatos dos eventos culturais pós-estado de emergência (não pós-pandemia que essa, infelizmente, ainda está em vigor) vão testando de forma constante os limites da criatividade e a Trienal de Arquitectura deste ano foi um exemplo digno de nota elegíaca. Tradicionalmente, a Trienal organiza o chamado Open House Lisboa (OHL), uma oportunidade única para visitar casas ou instalações singulares do ponto de vista arquitectónico. O estado de perpétua incerteza, que pode de um dia para o outro significar novas restrições ou imposições para conter a força do vírus, levou os coordenadores da edição de 2020 do OHL a criar um formato diferente que funcionasse para qualquer estado de sítio vigente na altura em que estivesse a decorrer. Como tal, a Trienal propôs a 8 personalidades, representantes de um vasto espectro das Artes e das Humanidades, o desafio de gravar passeios sonoros pela cidade de Lisboa em formato podcast.


O conceito é simples, prático, autónomo e adaptado ao ritmo e aos interesses de todos. Os passeios foram disponibilizados para um download gratuito no início do fim-de-semana. Feito o download dos ficheiros audio, são-nos exigidos uns auriculares, um telemóvel ou iPod e um bloco de notas (para que os detalhes importantes que queremos lembrar não escapem aos fios da memória). E a partir daqui é só iniciar o audio no ponto de partida "combinado" e seguir as indicações do nosso guia.


Através da sua voz seguimos os passos destas personalidades que, tal como nós, vivem a cidade e os seus estímulos quotidianos, estímulos esses reflectidos nas obras literárias ou artísticas de cada um. Leonor Teles (cineasta), Paula Moura Pinheiro (jornalista), Rui Tavares (historiador), Tomás Wallenstein (músico), Gonçalo Byrne (arquitecto), Lígia Soares (coreógrafa), Gonçalo M. Tavares (escritor) e Inês Meneses (radialista) são os autores que nos revelam este ano um pouco da sua identidade e relação artística com Lisboa.


O processo auditivo destes podcasts é uma busca constante de detalhes, histórias e perspectivas que fogem à percepção do transeunte menos atento. E o resultado ficou registado nestas fotografias que vos trazemos. Vamos reconstruir os nossos passos pela cidade, na companhia da voz de quem a habita.



Por Alvalade, com Tomás Wallenstein

A avenida de Roma, no troço que desemboca na Praça de Alvalade. Esta artéria da cidade é um autêntico matiz de prédios, cada um com pormenores únicos. Procurem pelas estátuas no topo de alguns edifícios e pelos cafés que fazem de Roma um ponto de encontro obrigatório para os alvaladenses.



O Grog, bar histórico de Alvalade. O espaço é pequeno e acolhedor e a decoração mais antiquada tornam o Grog um ponto central da vida nocturna alvaladense.



Escultura de Dorita Castel-Branco no Complexo dos Coruchéus, onde podemos encontrar a Biblioteca homónima e a Galeria de Arte Quadrum. Até dia 4 de outubro, podem ver a exposição “Artes, feminismos e ecologia”. Se não apanharem a exposição, entrem na mesma porque o jogo de luzes do espaço é fantástico e tem um belo pátio traseiro. Um verdadeiro oásis de silêncio em Alvalade.


O arquivo histórico de um habitante do bairro de Santa Joana Princesa voou com o vento. Continuamos ao som da banda sonora preparada por Wallenstein. Pelo caminho ouvimos Elis Regina, Fausto, Luís Severo e Tom Tom Club.


Fachada de um prédio do Bairro das Estacas, projecto dos anos 50 da autoria dos arquitectos Rui de Atouguia e Sebastião Sanches. Uma nova forma de explorar os espaços térreos de comércio e os espaços ajardinados entre prédios.



Por Arroios e arredores, com Leonor Teles

A Fonte Luminosa da Alameda, oferecida à Câmara de Lisboa pelo Estado Novo, em 1948, para comemorar o abastecimento de água à zona oriental da cidade.


Rua Heróis de Quionga, perpendicular à rua Morais Soares. Bem-vindos a Arroios. Guiados por Leonor Teles, partimos à descoberta da heterogeneidade cultural e arquitectónica do Bairro das Ex-Colónias (os topónimos são referências às ex-colónias, daí o nome)



O antigo cinema Imperial/Pathé, marca indelével do florescimento dos cinemas nos meados do século XX e da sua decadência posterior neste século. Esta fachada abandonada é o que resta para imaginarmos este cinema da rua Francisco Sanches nos seus tempos áureos. O projecto mais recente é de Fernando Silva, arquitecto responsável pelo monumental Cinema S. Jorge.



O mocho da rua Carlos Mardel. Um símbolo de Arroios



Um acidente de percurso na calçada portuguesa da rua Francisco Sanches



O edifício de gaveto do largo Olegário Mariano é um exemplo típico da corrente arquitectónica “português suave” do início do Estado Novo. A retoma de elementos populares e antigos está patente no telhado piramidal, lembrando as antigas torres medievais. O nome da corrente foi cunhado pelos seus críticos, que em jeito de gozo lhe deram o nome de um tipo de cigarros.


Pormenor da antiga Fábrica de Cerveja da Portugália, na Avenida Almirante Reis. É um daqueles edifícios cuja recuperação deveria ser obrigatória.



O bulício habitual da Avenida Almirante Reis, agora com a nova ciclovia. Repare-se na indicação dada pelo sinal, que corrige o nome do “Bairro das (Ex-)Colónias”. Leonor Teles vai-nos chamando a atenção para as perspectivas das ruas transversais, muitas vezes ignoradas por quem percorre apressado as avenidas principais


Todos os caminhos que levam à Penha de França são íngremes, mas a vista vale a escalada. Aqui as escadas da rua Cidade de Liverpool, no bairro de Inglaterra


Varandas art déco da rua de Moçambique. Esta rua, a par do Bairro Azul, tem um conjunto de prédios onde podemos encontrar os traços mais reconhecíveis da art déco. Aqui a linha curva ganha uma certa liberdade.


O célebre 28, estranhamente mais desafogado do que aquilo a que nos habituámos.


Um morador da rua Angelina Vidal, interessado no movimento da rua neste domingo de sol, ou simplesmente reticente em relação a ir aproveitá-lo, também.


Baltasar, uma das personagens mais recentes e sonantes da vida de rua lisboeta. Podem encontrar o Baltazar por aí, do Torel ao Cais, a espalhar o som das suas novas criações musicais.


Bairro Estrella D’Ouro, construído com o propósito de alojar os operários e as pessoas pertencentes a classes mais baixas da cidade, novos habitantes do cenário industrial expansivo


O antigo cinema Royal Cine, onde foi exibido pela primeira vez um filme sonoro em Portugal



Leonor Teles fecha o seu percurso em chave d’ouro no miradouro mais alto da cidade, a Senhora do Monte


O camarada 28 levando-nos para o início do percurso de Lígia Soares nos Prazeres.


Por Campo de Ourique, com Lígia Soares

Lígia Soares narra-nos um poema falado, inspirado nas referências visuais do cemitério dos Prazeres, onde se encontram sepultadas muitas figuras ilustres do nosso país. Um museu dos mortos para os vivos.


Uma varanda da rua Saraiva de Carvalho, onde vemos condensadas algumas referências visuais de Lígia Soares, do gato aos vasos.



Pelas Avenidas Novas, com Paula Moura Pinheiro

Já nas Avenidas Novas, junto à loja de roupa Casa Xangai, uma das muitas lojas históricas (a par da Versalhes, da Chaimite…) da zona da Avenida da República. É Paula Moura Pinheiro que nos guia agora.


Um leitor que aproveita o fim de tarde no Parque Eduardo VII, a alameda ajardinada projectada por Keil do Amaral para articular a cidade velha com a cidade nova.


O fim do percurso da jornalista é no Parque Amália Rodrigues, desenhado e pensado pelo incomparável Gonçalo Ribeiro Telles, arquitecto responsável pelo Jardim da Fundação Gulbenkian. Este jardim é talvez a única consequência especial que adveio da construção do vizinho El Corte Inglés.

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