de Pedro Teixeira Brites
O jogo entre o Estoril e o Porto termina com uma vitória para a equipa da casa por 1-0. A primeira questão na conferência de imprensa colocada a Vasco Seabra refere a arbitragem.
Na estação pública, após 11 minutos de debate sobre o jogo, seguem-se outros 13 (interrompidos a meio por compromissos publicitários e pelas conferências de imprensa) a discutir à lupa as decisões do árbitro durante toda a partida.
Só depois disso se retoma a discussão futebolística.
Na emissora que transmitiu o jogo, mal este termina e as flashinterviews chegam ao fim, inicia-se um programa cujo objetivo é escrutinar todos os momentos de impacto do árbitro no jogo – já passámos, há muito, a fase de analisar apenas os lances capitais.
Isto poderia ser uma exceção, mas é o comum.
Num momento em que o Porto acabava de perder pela 3ª vez nesta época contra o Estoril, boa parte do debate sobre aquilo que foi o jogo e esta estranha sequência foram, à partida, posto de parte para se falar de um assunto que nem o devia ser: a arbitragem.
Longas dissertações sobre cada falta, cada amarelo, cada apitar, cada contacto na área, impedem que a conversa se centre de onde nunca deveria ter fugido: o jogo.
Porque mesmo com VAR, as discussões continuam. As discussões que o VAR viria amenizar, são hoje tão acaloradas quanto antes.
O VAR diminuiu os erros, mas não diminuiu o tribalismo. Hoje os foras-de-jogo são vistos milimetricamente, (desresponsabilizando totalmente os fiscais de linha, mas isso é outra conversa), os penaltis assinalados são revistos por múltiplas pessoas em múltiplos ângulos.
Apesar disso, o mau tom continua. Se antes a indignação ia para o árbitro que não mostrou o vermelho, que não assinalou o penalti, hoje vai para o VAR que não chamou o árbitro para confirmar a sua primeira decisão ou que confirmou o penalti que não devia.
O debate muda de forma, mas não muda de feitio nem nunca foge do tema que nem devia ser assunto. Os próprios clubes, treinadores e presidentes beneficiam com tudo isto.
Quando o Porto ficou afastado do título, Pinto da Costa veio à conferência de imprensa disparar em todas as direções num estilo “eu perdi porque me roubaram” que tanto existe no futebol português.
Depois da derrota em Alvalade, a contar para a taça, Roger Schmidt falou do penalti que foi revertido – sim, não foi assinalado e, mesmo assim, foi tema de conversa – e do golo anulado aos encarnados.
Já depois do empate na segunda mão, a arbitragem voltou a ser tema quase central da discussão. O tema nunca é o pouco futebol, as más exibições constantes, a falta de capacidade de leitura por parte de quem se senta no banco.
São os árbitros, os penáltis que não viram ou não deviam ter visto, é a terceira equipa que joga sempre ao lado da do adversário. E assim se vai alimentando este ciclo.
Os intervenientes desportivos culpam arbitragens nas derrotas e sucedem apesar delas nas vitórias. O comentariado centra nelas o seu debate por falta de capacidade ou interesse em falar daquilo que é o jogo jogado.
O adepto escuda-se nas ações da terceira equipa para justificar a derrota dos seus, nunca admitindo que eles são os principais responsáveis. O estilo “contra tudo e contra todos”.
O jogador que deveria ser exemplo no plantel, mas, ao ver o colega ser expulso por acertar na cara do adversário, vai bater palmas ao árbitro num gesto de uma infantilidade monumental.
O campeão do mundo que, não raras vezes, simula faltas dentro da área adversária que não existem e vem para as redes sociais criticar a arbitragem.
Todos estes são responsáveis pelo que acontece hoje. Este é o centro do debate, porque a maioria assim o quer.
Por muito que se faça, por muito que o VAR evolua, como este dependerá sempre da componente humana, o futebol continuará a ser assim. Com ruído e com baixaria.
Se os intervenientes mudarem, se o comentariado se focar no que importa, talvez os adeptos em casa passarão a dar menor importância a algo que não a devia ter.
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