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Os muros que nos faltam quebrar

Atualizado: 4 de mar. de 2022

Crónica de Duarte Matos Fortuna


Esta semana encontrava-me a procurar algo com que passar o tempo a ver, para distração quando, na plataforma de streaming NETFLIX, sem passar qualquer publicidade à mesma, encontro um documentário feito por um dos meus realizadores preferidos Wim Wenders, autor de filmes como “Until The End of Time”, “Asas do Desejo” ou o conhecido “Paris, Texas”, mas também com ligação especial ao nosso país contando com um trabalho realizado em Portugal, “Lisbon Story”.


Mas não estou aqui para vos falar do vasto trabalho cinematográfico do realizador mas sim do documentário, que agora fará parte de mais uma lição que levo ou que passarei a recomendar a amigos. Nada mais nada menos que o documentário “Papa Francisco: Um Homem de Palavra” que nos apresenta de uma perspectiva intimista a vida durante um ano do líder da Igreja Católica Apostólica e Romana.


Para começar a falar do conteúdo, da raiz do documentário, terei de começar fazendo referência a Francisco de Assis que há 800 anos, como referido no documentário, partiu para a Terra Santa em busca de conciliação entre os “dois mundos” da altura: o mundo islâmico e o mundo católico.


No século XXI deparamo-nos com um homem que, à imagem do frade, adoptando o seu nome para o seu pontificado, dedica-se à conciliação no Mundo Moderno. Uma conciliação num mundo de ruído, em que o diálogo é interrompido constantemente pelos decisores políticos mais relevantes, pelos interesses e pela ganância. Não estarei a dar uma aula de catolicismo com estas frases que escrevo, mas tento passar a imagem e as palavras ditas pelo líder da Igreja, que tenta aproximar-se, após um pontificado do Papa emérito Bento XVI distante de quem precisa de forma mais premente de ser escutado e ligado a diversos escândalos não necessários agora de mostrar.


Numa altura em que o mundo se encontra como um íman desmagnetizado, vem Francisco trazer o equilíbrio para a terras onde caminhamos e vivemos nos dias de hoje.

Nunca foi tão importante existir uma palavra de aproximação entre igrejas, entre religiões, povos e culturas em confronto, com exemplo dos confrontos acirrados entre Estados Unidos, mesmo país que, no documentário, é possível visualizar a reação do Senado norte-americano ao discurso do Papa, podendo ser observável muitos dos senadores a não escapar às lagrimas por assistirem um discurso unificador, um discurso de coesão e de necessidade de agregação, sendo essa a principal mensagem de Francisco, a pobreza da Igreja, fora dos luxos e dos escândalos como tem sido acusada de rejeitar homossexuais, pelos escândalos de pedofilia com membros do clero. Um só homem traz a resposta de forma frontal, quando é confrontado com o lobby gay: aceitemos a realidade, exista fraternidade, sejamos receptivos à mudança do mundo, num momento em que foi no mês passado, de outubro, lançada uma encíclica com o nome “Fratelli Tutti” em que o Papa Francisco se mostra aberto à conversação, que pede a aceitação da diferença existente no mundo e que seja possível construir um caminho para a fraternidade e amizade social.

Vejam-se os prisioneiros, os desfavorecidos, os refugiados que hoje são um problema para o direito internacional e vivem em agonia por não terem um país que possam chamar seu, o pastor Jorge Mário Bergoglio, hoje Francisco é, como referido no documentário do realizador alemão, o pastor do Mundo que pretende retirar a polarização e trazer a moderação ao discurso e às ações tomadas pelos líderes actuais.


Um verdadeiro democrata-cristão, tendo como pilares a solidariedade, a tentativa de trazer a justiça social, estando do lado dos que evidencie no início do paragrafo, os mais desfavorecidos, os rejeitados pela sociedade, tentando quebrar muros que nos isolam, tentando quebrar estigmas e tabus, aproximando povos e chegando com a palavra onde esta teima em não chegar.


Neste documentário podemos observar os discursos nas mais variadas ocasiões, as reações à proximidade de um homem que, para muitos, é suposto ser distante e apenas o mensageiro e o burocrata da igreja, até às reflexões do próprio, daí o carácter e a perspectiva intimista do documentário, mostrando uma faceta e as suas crenças, ideologias e mensagem.


Mais uma vez digo, isto não é uma lição ou um texto de catecismo mas sim um texto que mostra um dos influenciadores da vida moderna, no seu caminho para o transporte da sua mensagem, sendo como Francisco de Assis, juntando-se aos mais pobres e vivendo na pobreza, trazendo a pobreza para a Igreja numa altura em que o Mundo vive em pandemia, com também populismos políticos que desconfiam do diálogo agarrando-se a ideologias do passado que, como tanques de guerra, passavam por cima de tudo para atingir o seu fim.


Um documentário que se poderá ver para tentar conhecer mais uma das personalidades do século XXI e que trará ao mundo novas mensagens quando este mais precisa quebrando os muros que nos rodeiam por um mundo livre e mais fraterno.

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