A cidade de Munique pretendia iluminar e hastear bandeiras no “Allianz Arena” com as cores do arco-íris, um dos símbolos da comunidade LGBT, no jogo entre a Alemanha e a Hungria a contar para o Euro2020.
De Gonçalo Mesquita Ferreira
Esta iniciativa tinha o objetivo de manifestar apoio e solidariedade para com a comunidade LGBT na Hungria, onde foi aprovada recentemente uma lei que proíbe a "representação" da homossexualidade e da transexualidade em espaços públicos.
No entanto, o pedido de autorização que foi feito à UEFA para a realização deste ato simbólico foi recusado por este organismo dado que "Pelos seus estatutos, a UEFA é uma organização política e religiosamente neutra".
Importa, no entanto, recordar, que este organismo que rege o futebol europeu e que se diz “neutro” do ponto de vista politico já aplicou sanções quando os adeptos do Celtic (em 2016) exibiram bandeiras palestinianas durante o jogo contra o Hapoel Beer Sheva (Israel) a contar para a pré-eliminatória da Liga dos Campeões.
Para além disso, em 2014, também anunciou que as equipas russas e ucranianas não se poderiam defrontar nas competições europeias durante essa temporada tendo em conta a situação política vivida entre os dois países.
Estes são dois exemplos, de natureza e com finalidades diferentes, onde se denota que esta neutralidade que a UEFA diz ter em matéria política acaba, muitas vezes, por desembocar na escolha de um dos lados do conflito -, no 1.º exemplo -, e por outro, na tomada decisões com impacto desportivo baseadas em contextos políticos – no 2.º exemplo.
Isto não é neutralidade!
Aliás, já no contexto deste Euro2020, no seguimento de uma queixa apresentada pela Grécia, a UEFA recusou a mudança da sigla de denominação da Macedónia do Norte (de MKD para NM ou RNM) que, no entender dos Gregos, iria contra o acordo de Prespa, que alterou o nome desta república da ex-Jugoslávia. É evidente que também esta posição da UEFA, mal ou bem, tem uma leitura política!
No entanto, o mais importante de sublinhar é que não pode existir espaço a que um organismo -, sobretudo com a relevância da UEFA (que ainda por cima se diz pautar pela tolerância, respeito e combate a qualquer forma de discriminação) -, se declare neutro quanto a esta questão
Em matéria de violação de Direitos Humanos, ser neutro é sinónimo de complacência e inação. É, uma vez mais, uma fachada que tenta esconder a real posição tomada!
Comments