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Para que serve a História?

É indispensável que se perceba que esta disciplina não interessa somente aos políticos e aos pensadores, mas a qualquer indivíduo de uma Nação porque para se conhecer o país de hoje é preciso saber como se chegou até aqui, o que aconteceu antes e o que nos trouxe até às circunstâncias atuais

Crónica de António Ribeiro Telles

Mestrando em História Contemporânea



Certa vez, perguntaram-me, como um dia haviam perguntado a Marc Bloch, para que servia a História. Fiquei estupefacto a olhar para quem havia tido a ousadia de me dirigir tal pergunta e fiquei pensativo. Talvez o que me vem primeiro à cabeça seja uma das mais importantes funções sociais da história, que é – sem complicações – o dar prazer e divertir aqueles que se deparam com tal ciência e arte. A propósito disto, dizia a Dra. Patricia Grau-Dieckmann, que «a História serve para que nos divirtamos lendo uma novela que aconteceu na realidade» . Para isso, é importante, desde logo, saber contar a história, uma vez que se tal não acontece é difícil que alguém goste de a ler.


Desde sempre que a História foi considerada um saber político, pois ao governar um país, para se compreender o presente e projetar-se o futuro, é importante que se entenda o passado e que se perceba o porquê dos acontecimentos, dos factos. É também indispensável que se perceba que esta disciplina não interessa somente aos políticos e aos pensadores, mas a qualquer indivíduo de uma Nação porque para se conhecer o país de hoje é preciso saber como se chegou até aqui, o que aconteceu antes e o que nos trouxe até às circunstâncias atuais. Porque é que a República foi implementada no dia 5 de Outubro de 1910 e não no dia 6? Ou no dia 31 de Janeiro de 1891? Questões como estas sabem-se e conhecem-se contando a história.


É certo que a função do historiador e da história não é criticar o passado – ainda que se acabe muitas vezes por o fazer – mas antes contar o que aconteceu reunindo o maior número de informação possível. A História, com fontes credíveis, procura a verdade dos factos, mas nestes últimos dias têm-me tomado o pensamento a pergunta que Pilatos um dia havia dirigido a Cristo: «O que é a verdade?». Em tempos em que existe um grande ceticismo relativamente à verdade e onde impera um relativismo extremo, conduzindo à convicção de que nada de absoluto existe e que a verdade depende do anuência ou do que cada um quer, é difícil perceber que de facto a verdade existe e é exequível conhecê-la e encontrá-la. A História, melhor o historiador, não quer nem tem por objetivo moldar a verdade à sua vontade, mas antes ter um caráter inatacável, de princípios justos e sólidos, para que também ele seja credível.


Regressando à função social da História nos tempos atuais e à sua importância para a sociedade em geral: com a História, para além do que já referi, não só se entende o passado, como se compreende aquilo que dele fez parte. Sem a História como poderemos compreender aquilo que albergam as nossas casas, os museus e até mesmo as cidades? José Mattoso, afamado e consagrado historiador, sintetiza relativamente bem este assunto na sua obra A Função Social da História no Mundo de Hoje, afirmando que, no fundo, «o que interessa não é gostar da História mas estar convencido que sem ela não se pode compreender o mundo em que vivemos» , porque esta é sempre importante e necessária para a defesa de uma Nação, que não se consegue com o uso de armas e com a guerra, mas somente com a preservação da sua identidade cultural.


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