Hoje, 12 de maio, celebramos o nosso feriado municipal, que é o dia de Santa Joana Princesa, padroeira de Aveiro desde 1965. Celebramos uma Santa que é apenas Beata e que iniciou a vida de devota no Convento de Odivelas.
Crónica de Bárbara Barbosa
Licenciada em Ciência Política e Relações Internacionais na NOVA-FCSH e Mestranda em Jornalismo
Sou nascida e criada em Aveiro ou, segundo Boris Johnson, na cidade “perto do Porto”. É, também, assim que a introduzo a todos os estrangeiros com que me cruzei nas viagens que fiz até hoje. No entanto, Aveiro é muito mais do que a distância de 74km, pela A1, até à segunda maior área metropolitana do país.
Muitos argumentam que é necessária distância para se refletir sobre o meio que frequentamos. A verdade é que aos 18 anos fui estudar para Lisboa – foi lá que tirei a licenciatura e, correntemente, o mestrado. Dei um saltinho a Budapeste em Erasmus. A pandemia que vivemos arrancou-me de terras alfacinhas e trouxe-me de volta aos aveirenses, sejam eles cagaréus ou ceboleiros.
Pensa-se que Aveiro provém de “Alavarium”, pois é o topónimo que surge no primeiro documento da cidade que remonta ao ano de 959. Não é de admirar que essa primeira menção surja no testamento onde se doam as marinhas de sal ao mosteiro de Guimarães – desejo último da condessa Mumadona Dias.
Ora, esta é uma cidade pequena e pacata – toda a gente que aqui vive tem noção disso mesmo. Só há trânsito na hora de ir largar e buscar os miúdos da escola ou então nas rotundas, que unem o centro aos subúrbios, na habitual hora de ponta. Fora isso, não exagero quando digo que se ouvem pássaros na rua. É incrível para quem não gosta de viver no meio da azafama.
Uma vez, andava eu a passear, sem pressa e sem destino, e acabei por dar a volta toda ao centro turístico da cidade numa tarde. De fora ficaram as marinhas de sal (ou na gíria, salinas) e as praias, locais prediletos de quem nos visita. E não é de admirar: as salinas até têm praia e piscina com tratamentos de spa; a Praia da Barra tem o maior farol nacional e a Costa Nova tem as casinhas às riscas mais conhecidas do instagram.
A comida é outra atração e, de pratos principais a doçaria tradicional, importa apenas escolher: das enguias ao leitão da Bairrada, dos ovos moles às tripas à moda de Aveiro - para quem não conhece, é uma bolacha americana mal cozida e recheada com o que se quiser, de chocolate a doce de frutas ou de ovos.
Cultura não falta por estas andanças: o Teatro Aveirense, a Associação Cultural Mercado Negro, o Avenida Café-Concerto, a Casa de Chá Arte Nova, o Museu Municipal e o Navio-Museu Santo André, entre outros, são incontornáveis. Não esquecer que a Vista Alegre nasceu aqui perto e que é possível visitar a vila…
No que toca a vida noturna, em Aveiro não há muito por onde escolher: todos os caminhos vão dar à Praça do Peixe e, se se optar por uma ida à discoteca, o SAL é a única opção (no verão abre a Estação da Luz, não estamos no fim do mundo afinal).
A cidade tem como ex-libris os canais, e é por isso conhecida como a Veneza Portuguesa – analogia que retira tanto a individualidade como a identidade que só passando por aqui se conseguem assimilar e absorver. Não obstante, se só os turistas andam nas gôndolas venezianas, o cenário parece repetir-se por cá com os moliceiros: quando os aveirenses andam neles sentem-se turistas e poucos são os que andaram mais que uma vez. Já andei três e, apesar do vento ser incomodativo (são raros os dias não ventosos, não é por acaso que muitos guardas chuvas têm aqui uma vida curta), não posso deixar de recomendar.
Hoje, 12 de maio, celebramos o nosso feriado municipal, que é o dia de Santa Joana Princesa, padroeira de Aveiro desde 1965. Celebramos uma Santa que é apenas Beata e que iniciou a vida de devota no Convento de Odivelas. Contudo, não era esse o destino da Infanta. Pouco depois solicitou a mudança para Coimbra e durante a viagem revelou ao seu pai, D. Afonso V, que pretendia ir para Aveiro. Assim, em 1472, entrou no antigo Convento de Jesus - atual museu municipal.
Na outrora vila de Aveiro, Joana dedicava-se à caridade e ajudava, a par do Convento, grande parte das pessoas que tinham fome ou que passavam dificuldades. Quando morreu neste dia, há 530 anos, Aveiro vestiu-se de luto porque o povo sentiu que perdera a sua protetora. Este ano, para assinalar a data, não há sessão solene nos Paços do Concelho, não há a tradicional procissão que acaba na Sé nem nenhum concerto comemorativo. A cidade está vazia e aguarda por dias melhores. Por agora, e para quem a conhece: recordemos; para quem não: um até já.
Comments