Castelo Branco é mais do que a Senhora de Mércoles, esta terra vence pela autenticidade de um Portugal que não é paisagem e que, no convívio com um tempo mais lento e vivido do que o da capital, ganha na cultura
Crónica de Luís Mota
Licenciado em Ciência Política e Relações Internacionais no IEP-UCP
Natural de Vila Velha de Ródão, a cerca de 30 quilómetros de Castelo Branco, é a esta localidade que guardo o título de terra-natal. Vim morar para Castelo Branco com 12 anos, onde cresci e passei a minha adolescência. A situação atual fez-me voltar a casa e a esses tempos.
Tirei a licenciatura em Lisboa, onde comecei a passar a maioria do meu tempo e, já licenciado, o destino levou-me ao Reino Unido para um estágio. Estas andanças permitiram-me ter uma visão periférica, mas com conhecimento de facto, daquilo que é “A Beira” e a dar-lhe valor pela sua autenticidade e pela liberdade e oportunidades de poder desenvolver a minha independência com uma qualidade de vida que outras cidades não dão.”
Restando apenas uma muralha do que era o Castelo e não sendo ela branca, a origem do nome Albicastrum não é consensual – pensa-se que se refere à antiga cidade de Cataleucos, cidade fundada pelos cartagineses em honra da deusa Leucoteia (a Deusa branca, protetora dos marinheiros). Assim, inesperadamente, quem é natural de Castelo Branco não é Castelo Branquense nem Castelense, mas sim Albicastrense.
O feriado municipal desta cidade celebra-se na 3a Feira que sucede o segundo Domingo de Páscoa e, em situações não pandémicas, é habitual haver uma romaria em volta da Ermida da Nossa Sra. De Mércoles. Reza a lenda que, perante uma Praga de Gafanhotos, seca e consequente destruição das culturas, o Povo prometera fazer ali uma Romaria se “Nossa Senhora de Mércoles” fizesse chover e livrasse Castelo Branco dos gafanhotos. Esta ermida foi construída no século XII pelos Templários e o seu estilo tem marcas de transição do românico para o gótico. A origem desta festa remonta ao século XVI e tem a ver com o agradecimento a Nossa Senhora. Além disto, julga-se também ter havido no mesmo lugar um templo romano dedicado a Mercúrio que vem dar origem a Mércoles.
A festa decorre entre sexta e terça e é celebrada religiosamente – com a procissão e missa, animada pelas bandas filarmónicas da região - e a noite fica reservada aos carrosséis para os mais novos e a momentos de convívio ao sabor de sardinhas assadas e feijão frade para todos.
Castelo Branco é mais do que a Senhora de Mércoles, esta terra vence pela autenticidade de um Portugal que não é paisagem e que, no convívio com um tempo mais lento e vivido do que o da capital, ganha na cultura – com muita influência musical tanto do Conservatório Regional como uma programação cultural de luxo pelo Cine-Teatro Avenida; o Centro de Cultura Contemporânea de Castelo Branco com sucessivos intercâmbios com a Fundação Serralves, a Fundação Calouste Gulbenkian e até a Casa da Música; o Museu Francisco Tavares Proença Júnior, onde se encontram os aclamados bordados de Castelo Branco; o Museu Cargaleiro, a recente Fábrica da Criatividade, o Jardim do Paço e o Parque da Cidade. Quando está mais calor – o que é acentuado no verão de 40ºC à sombra - as praias Fluviais do Concelho enchem-se de pessoas. E para quem gosta de sair à noite a escolha é vasta e para todos os gostos, com as noites nas Docas, na Associação Livre Cor, no Jonnhys’ ou na Alternativa. A gastronomia é a mais típica de Portugal – queijos, enchidos, vinho, pão e doçaria típica.
Apesar de neste ano estas festas não acontecerem como normalmente, o povo albicastrense vai manter a resiliência e cumprir as ordens de confinamento até ser seguro sair para aproveitar o melhor que esta cidade e região têm para oferecer.
Esta capital de distrito foi considerada em 2006, num estudo da DECO, a segunda capital de distrito do país com melhor qualidade de vida. Uma cidade em crescimento que oferece as melhores condições para uma vida com segurança e qualidade.
Portugal tem muito para oferecer além do litoral, o interior de Portugal guarda muita história, natureza e cultura que precisa de ser descoberta pelo resto do país. Deixo a garantia de que quem visitar a Beira Interior sairá daqui agradado com o que viveu, com o que viu e, certamente, com o que comeu.
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