Em tempo de eleições fazem-se balanços do estado do país e reflexões sobre quais os caminhos a seguir nos anos seguintes. Ao longo deste artigo, tentarei explicar aqueles que são, no meu entender, alguns dos pontos-chave da economia portuguesa nos próximos anos.
de Joaquim Couto
Durante a última legislatura, o mundo foi abalado por uma pandemia que mudou por completo o paradigma em muitos setores da sociedade. A economia não foi exceção. Apesar de estarem habituados a trabalhar em contextos de incerteza, nenhum economista ou gestor poderia prever que um choque exógeno fosse atingir a economia mundial como este. A pandemia parou processos produtivos e colocou trabalhadores em lay-off ou em teletrabalho, entre outras coisas. A digitalização da economia foi acelerada, novos modelos de negócio foram criados e as empresas tiveram de se adaptar a esta nova realidade.
O primeiro ponto-chave foram as mudanças introduzidas pela pandemia no mercado de trabalho. O típico dia de trabalho no escritório foi substituído pelo trabalho à distância. Introduziu, portanto, uma nova forma de pensar o trabalho. Será que é necessário ir todos os dias ao escritório? Será que a semana de trabalho deve continuar a ter cinco dias? Devemos trabalhar com horário fixo ou por objetivos? Com o trabalho à distância, que acréscimos de remuneração receberão os trabalhadores para as despesas com luz e internet? São perguntas a que as políticas públicas terão de responder nos próximos anos. A alteração do paradigma económico exige, aliado a si, uma alteração do enquadramento político.
Daqui, surge um segundo componente: o da atração e retenção de talento. Nestes 2 anos, passou a ser normal, por exemplo, alguém trabalhar para uma empresa alemã a partir da sua casa em Portugal. O mercado de trabalho tornou-se mais global, ou seja, a mobilidade do fator trabalho aumentou bastante (fatores emocionais como o apego aos amigos ou à família perderam importância, visto que o trabalhador continuaria no seu país). Isto faz com que um jovem português tenha ainda mais interesse em trabalhar para empresas estrangeiras que paguem salários mais altos do que os salários portugueses. É fundamental que, na próxima legislatura, as políticas públicas consigam reter e atrair talento. A meu ver, isto é conseguido através da redução de burocracias para trabalhadores e empresas. É preciso criar condições favoráveis para que empresas estrangeiras invistam em Portugal e para que os trabalhadores tanto portugueses como estrangeiros queiram trabalhar em empresas estabelecidas por estas paragens.
Um terceiro ponto-chave que está relacionado com a economia é o setor da educação. Do meu ponto de vista, Portugal precisa de apostar numa nova forma de educar os seus jovens e de criar talento. O sistema educativo, sobretudo o universitário, precisa de ser mais dinâmico. Isto é, precisa de introduzir nos alunos portugueses as chamadas soft-skills: as competências interpessoais dos alunos. Num mercado de trabalho cada vez mais globalizado é fundamental desenvolver uma boa capacidade de comunicação, a competência de trabalhar em equipa, um pensamento crítico bem estruturado, entre outras coisas. Os métodos convencionais de ensino devem ser gradualmente substituídos, sem nunca esquecer o importante papel que o conhecimento e a teoria têm na formação de qualquer indivíduo. Os modelos mais tradicionais, que consistem na exposição de matéria durante as aulas e na sua memorização para os momentos de avaliação, preparam os alunos para trabalhos repetitivos. Esses mesmos trabalhos repetitivos têm vindo e continuarão a ser substituídos pela automatização da economia. Sobra aos indivíduos o “trabalho criativo”, e nesse âmbito, competências como o pensamento crítico são fundamentais.
Em quarto lugar, falemos de coesão territorial. As disparidades regionais em Portugal são bastante grandes. O facto de o país ter uma boa parte da sua população concentrada no litoral, sobretudo nas áreas metropolitanas do Porto e Lisboa, é prejudicial tanto para as regiões mais habitadas como para as mais desertas. Nas regiões com mais população os habitantes dessas cidades deparam-se com uma queda na sua qualidade de vida: transportes públicos sobrelotados, trânsito caótico e preços da habitação cada vez mais elevados, entre outros.
Os habitantes das regiões mais despovoadas deparam-se com uma grande falta de oportunidades, que os leva a irem viver para o Porto e Lisboa, adensando assim os referidos problemas das áreas metropolitanas. É essencial que se consiga fixar população fora dos dois maiores centros urbanos, de modo a permitir uma melhor qualidade de vida a todos. Uma medida que pode ajudar neste contexto é o trabalho à distância. Um trabalhador a residir em Viseu e a trabalhar para uma empresa com sede em Lisboa, por exemplo. Este é apenas um exemplo, porém, é fundamental que este tema seja bastante debatido nos próximos anos e não se fique apenas pelo debate da regionalização. Este último tópico é encarado por muitos como a solução para todos os problemas, o que acaba por limitar um pouco o debate.
Um quinto conceito a considerar será o da transformação energética. As alterações climáticas são um dos maiores desafios da atualidade para as gerações atuais e para as vindouras. As preocupações ambientais são uma importante causa que deve ser abraçada pelos decisores políticos. É urgente substituir energias fósseis por energias renováveis. Portugal tem boas condições para a produção destas energias, pelo que poderão ser igualmente uma boa oportunidade para a nossa economia.
Um sexto e último ponto-chave são as contas externas. É fundamental que o estado continue com a trajetória de redução da dívida pública que vinha a executar no período pré-pandemia, de forma que as suas finanças estejam saudáveis. Num eventual cenário de crise económica, é fundamental que o estado possa ser uma mais-valia. É também de grande importância que as famílias e as empresas tenham níveis de endividamento sustentáveis, de forma a evitarem riscos de incumprimento.
Para finalizar, relativamente à economia, acredito que é fundamental que os decisores políticos se concentrem nos seguintes temas: a inovação e capacidade exportadora das nossas empresas (tema que já desenvolvi em artigos de opinião anteriores), as mudanças no mercado de trabalho, a atração e retenção de talento, a criação de profissionais talentosos através de mudanças no sistema de ensino, a coesão territorial, a transição energética da nossa economia e, por fim, a redução dos níveis de endividamento dos nossos agentes económicos.
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