No espectro politico-parlamentar “vigente” desde 2015, a construção de alternativas assenta na ideia de que, idealmente, deve haver a possibilidade dos eleitores escolherem que tipo de bloco (no sentido mais alargado enquanto sinónimo de polo politico) querem que governa
Crónica de Gonçalo Mesquita Ferreira
No espectro politico-parlamentar “vigente” desde 2015, a construção de alternativas assenta na ideia de que, idealmente, deve haver a possibilidade dos eleitores escolherem que tipo de bloco (no sentido mais alargado enquanto sinónimo de polo politico) querem que governe.
Neste sentido, e tendo em conta o resultado das últimas eleições legislativas, o caminho de convergência no sentido da construção de um bloco central é, sem dúvida, um caminho perigoso. Desde logo, no contexto de crise pandémica e democrática onde os populismos se alimentam, precisamente, dessas soluções de “Centrão”.
Transposto este raciocínio para a famigerada negociação/aprovação do Orçamento de Estado para 2021, isto só pode significar o desenho de um orçamento assente na continuidade de recusa pela escolha de soluções austeritárias para a resolução de problemas que advêm da crise, tal como a manutenção de todas as conquistas sociais conseguidas nos últimos 4 anos, e ainda, um conjunto adicional significativo de novas medidas, dentro das disponibilidades orçamentais existentes, para o reforço de várias áreas “criticas” como o setor da Saúde, com enfoque no SNS.
Posto isto, é claro que o Bloco de Esquerda não tem uma obrigação divina de aprovar o Orçamento. Nem agora, nem mesmo ao abrigo do acordo de legislatura anterior, onde todos os Orçamentos foram negociados “um a um”. Contudo, importa perguntar se e que avanços existiram ao longo a negociação do Orçamento de Estado para o próximo ano. E se houve ou não a tentativa do Governo em ir ao encontro das preocupações que o Bloco de Esquerda colocou.
Creio que neste cômputo, qualquer observador de boa fé reconhecera que se é verdade que não houve uma cedência total em toda e cada uma das revindicações do Bloco, a verdade é que em quase todos os items apresentados houve significativos avanços que foram, até à última da hora, sendo incorporadas e introduzidas na proposta do Governo.
Aquilo que é incompreensível, por isso, é que tendo havido negociação, o Bloco de Esquerda se tenha deixado enredar numa teia argumentativa da qual, até ao momento, não conseguiu sair, e onde não consegue justificar perante o seu eleitorado porque é que, juntando os seus votos à direita, vota contra o Orçamento.
A mim, não me resta outra análise senão a de considerar esta posição do Bloco de Esquerda uma tática de pretensões eleitoralistas de médio prazo tendo em conta a evolução da crise, de quem tem e teve medo da gestão do risco de um crise cujos contornos não conhecemos e não o resultado final do processo negocial a que se chegou.
Isso fica, desde logo, espelhado no facto do tema “Novo Banco”, que durante vários meses foi identificado pelo Bloco como sendo a red line” para a não viabilização do Orçamento e que nunca foi trazido pelo Partido durante os dias de debate da generalidade
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