De Francisco Lemos Araújo
Bem, caros leitores, assim chegámos ao fim de mais uma campanha.
Chegámos ao fim de um longo e penoso mês durante o qual procurámos, em conjunto, abordar no espaço mediático e nas mesas do café a União Europeia – explicar o que é, a sua importância e a influência que tem no nosso dia-a-dia e o porquê de ser tão importante votar nas Europeias.
Os partidos apresentaram os seus programas, os debates tiveram lugar – tanto nas televisões como nas rádios – e os comentadores fizeram a sua análise.
Os candidatos deram entrevistas, foram à Cristina e ao Geirinhas para mostrarem o seu lado mais “humano” (uns com mais sucesso que outros). As campanhas andaram na estrada em comícios, arruadas e jantaradas, e as sondagens estão todas cá fora.
A partir de agora somos só nós.
Mas antes de nos remetermos ao silêncio e de passarmos o dia de amanhã a fingir que não há eleições, deixem-me apenas tecer dois comentários.
Gostaria de começar pela clássica frase “nas campanhas para as eleições europeias não se fala de temas europeus” que dizem que desta vez ficou na gaveta. Quero começar por aqui porque entendo que a frase devia ser corrigida para “em Portugal não se fala de temas europeus”.
A primeira razão para essa correção é que raramente abordamos as nossas escolhas políticas no âmbito da nossa pertença à União Europeia, falhando em reconhecer que muito do que acontece no nosso país é decidido em Bruxelas.
Um exemplo de como falhamos neste ponto é o facto de nenhum de nós saber o que pensam os líderes partidários – “candidatos” a Primeiro-Ministro nas anteriores legislativas – sobre o posicionamento de Portugal na UE e de que forma podemos reforçar a nossa posição; em que sentido votariam no Conselho Europeu e, os seus governos, no Conselho da UE em diferentes matérias; ou que alianças veriam como mais favoráveis para influenciar o rumo da política europeia.
A segunda é que apesar de os temas europeus terem sido trazidos para cima da mesa nesta campanha, os candidatos jogaram constantemente a cartada da política nacional por cima.
As perguntas foram, genericamente falando, bem colocadas e tocaram em vários temas relevantes, como as novas regras orçamentais, o pacto para as migrações e asilo, a necessidade de pensar a autonomia estratégica da UE, ou a questão da Ucrânia e as consequências tanto numa perspetiva da política de defesa de alargamento.
Mas os candidatos respondiam frequentemente com temas que fogem às competências europeias, por exemplo, defendendo o aumento dos salários, criticando o processo de extinção do SEF e o atual estado da AIMA ou dizendo são precisas políticas de integração de migrantes que, na verdade, têm de ser desenhadas e executadas nacional e localmente.
Não sei se foi por desconhecimento das competências atribuídas à EU ou dos seus próprios poderes enquanto potenciais Eurodeputados, mas a verdade é que não raras vezes acabámos que de europeia tinha pouco.
O segundo ponto que quero abordar é, creio eu, mais profundo e diz respeito à falta de visão e à incapacidade de apelar ao voto apresentando uma ideia de União Europeia, um pensamento sobre o seu futuro e o seu papel na vida de Portugal, da Europa e do mundo.
É certo que os partidos e os seus candidatos apresentaram programas com medidas para um mandato de 5 anos, com as quais podemos concordar ou discordar. No entanto, pareceu-me que nenhum foi capaz de transmitir a visão de futuro que tem para a UE (se é que a tem) e que nos faça, pelo menos, sonhar com algo.
Não digo que seja fácil e talvez esteja a ser demasiado ambicioso para umas eleições a que grande parte dos portugueses não liga nenhuma, mas creio que faz sentir ter esta exigência quando aquilo que me pedem em troca é o meu voto.
Este texto, apesar de poder parecer, não tem como objetivo criticar os partidos ou os candidatos, mas sim de nos incentivar a pensar e a ser exigentes. Pensar sobre os temas a que atribuímos relevância quando falamos de política europeia e que respostas queremos dar no contexto europeu. Ser exigentes com quem queremos que nos represente no Parlamento Europeu.
O longo do último mês, o Crónico tentou comunicar a União Europeia de uma forma simples, mas não simplista, para que percebêssemos a importância destas eleições. Este texto tentou ser o reflexo daquilo que no Crónico procurámos fazer: incentivar o voto informado.
Se o conseguimos ou não desse lado nos dirão. Mas se tivermos feito com que uma pessoa que seja se tenha interessado por estas eleições considero que fomos bem-sucedidos, pois é assim que as bolhas se rompem – saindo dela, uma pessoa de cada vez.
A campanha chegou ao fim, mas o nosso trabalho acabou de começar. Por aqui continuaremos a pensar e a ser exigentes com os nossos políticos, seja em Portugal ou na União Europeia. Por aqui, continuaremos Cronicamente Europeus.
Agora está nas vossas mãos. Dia 9, votem! Que seja o que os Europeus quiserem.
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