Crónica de Beatriz Viana
Estudante de Economia na Faculdade de Economia do Porto
Sou maníaca da produtividade desde pequenina (claramente type 3 no teste do Eneagrama- The Achiever), da organização pessoal e da gestão de tempo.
Sinto que seria a melhor amiga da Monica Geller, na série Friends, 15 anos depois, não com um binder alfabeticamente organizado, mas com um Google Calender organizado por cores, uma agenda física com listas de afazeres uma rotina semanal tão estruturada que as 7x24 horas, que tenho disponíveis como comum mortal, são aproveitadas e otimizadas ao máximo: com tempo de convívio e festas, filmes, séries, livros, ginásio, estudo, sono, refeição e tarefas domésticas (tudo menos meditação, que tirar tempo para respirar não está nas minha lista de prioridades aos 20 anos).
Gosto de dias cheios e caóticos, detesto a sensação de não ter absolutamente nada para fazer. “Não sei como é que tens tempo para tudo…” O que eu não sei como é que não temos todos tempo para tudo. Tempo não falta! Vontade? Motivação? Ritmo? Isso pode faltar. Saber que controlamos o tempo é um conforto especial, uma garantia de sucesso e de conquista pessoal.
E, portanto, vivo bem assim. Planeio, levanto e concretizo: acompanhada de café cheio sem açúcar, agenda com post-its na mão e relógio no pulso. Controlo do tempo. Controlo total.
A semana passa e chega a hora planeada de estar com os amigos. Arranjo-me afincadamente, normalmente com pressa (aliada principal neste modo de vida) e vou para o evento google de cor laranja, normalmente associado a alvoroços em grupos do whatsapp. Não levo a agenda (que até parece mal), nem tomo café (que se vai estar bem melhor nas minis geladas) e o relógio não combina com as sandálias. Pontualidade (quase) britânica porque o dia correu como planeado e pronta para- “inserir nome do evento partilhado”-.
Passa o tempo. As bochechas doem de rir, a garganta rouca de falar, a barriga cheia da pizza gordurosa e do gelado artificial, a cabeça leve do sono (ou das minis) e os pés com bolhas de dançar. Não sei que horas são, tão pouco me importa aquilo que tenho para fazer amanhã.
Embalada pela companhia e pela brisa das noites no Porto volto a casa, feliz e tranquila, com vontade apenas de respirar (mas não de meditar, que nisso não me apanham).
Controlar o tempo? Inútil. Parar o tempo é que é vital.
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