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Quem muda Deus ajuda?

de Gonçalo Brites Ferreira



No rescaldo das eleições mais entusiasmantes da nossa democracia, aquelas onde vemos as pessoas esperar pelos resultados à porta das mesas de voto pela noite dentro, onde pessoas são vencedoras e vencidas por um punhado de votos, há 7 concelhos que deixaram de ser féis ao seu partido vencedor desde 1976, os chamados Bastiões dos partidos, são menos que nas últimas eleições autárquicas.


Quais as principais semelhanças económicas deste 7 que veem pela primeira vez a mudança da sua cor política na associação municipal de municípios? E podemos encontrar razões económicas que expliquem essa mudança ao fim de 45 anos de governação de um só partido?

Em primeiro lugar os protagonistas, Penela e Ferreira do Zêzere, deixam a governação social-democrata para os socialistas, assim como Moita, Mora e Montemor-o-Novo, que deixam de ser Bastiões comunistas, para passarem a estar do lado dos socialistas. Reguengos de Monsaraz e o Cartaxo abandonam a família socialista e movem-se para a direita do xadrez político nacional, passando a estar sob a alçada do PSD.


Do ponto de vista demográfico, todas perdem população, com a exceção da cidade da Moita que ganhou 0,4% de população, e perdem acima da média nacional, cinco das sete cidades perdem população acima dos 8,5% desde os últimos censos, com a cidade de Mora, a ser o caso mais grave com a perda de 17,5% da sua população nos últimos dez anos.


Quando analisamos a consequência da perda de população vemos que estes concelhos na sua maioria apresentam problemas na fixação da população ativa, sendo o Cartaxo o único a apresentar uma população ativa superior à média nacional.

Na análise da remuneração mensal todas estas cidades apresentam estatísticas abaixo da remuneração média mensal nacional, algo que claramente irá penalizar a fixação de população, e por consequência a população ativa destas cidades. Em média nestas 7 cidades os trabalhadores ganham menos 240€ que os trabalhadores nacionais por mês.

Na análise dos principais setores de atividade, apenas a cidade da Moita apresenta o setor do comercio a retalho como principal setor de atividade, as restantes dividem-se entre atividades da indústria transformadora e do setor primário como setor dominantes ou de maior relevo. O que se transforma numa análise simples e sequencial, por serem setores com menores possibilidades de inovação tecnológica e de crescimento, também se revelam como setores com menores oportunidades de emprego com qualificação e por isso também tem um menor impacto da geração mais nova e mais qualificada.


Os desafios que estas novas governações vão encontrar são semelhantes entre si, problemas com a fixação da população, com a qualidade de emprego, e com a possibilidade da construção de carreiras que desaguam na possibilidade da ascensão do elevador social dos habitantes destas cidades. A permanência no tempo da governação, traz com isso o pior inimigo do poder, o vicio.


Os novos executivos não apenas irão lidar com problemas idênticos ao nível dos indicadores chave da economia, mas com o problema da eternização das estruturas locais, das rotinas e dos vícios criados por 45 anos de governação do mesmo partido, mas que em 7 concelhos diferentes e de 3 cores políticas distintas deixaram a mesma marca, menos população e menos poder de compra que a média nacional. Resta-nos a esperança de que mais uma vez a sabedoria popular esteja do lado certo da razão e que de facto Deus ajude, quem decidiu mudar.


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