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Quem quer ser acionista da TAP?


Ainda nem os empréstimos ao NOVO BANCO e à Caixa Geral de Depósitos arrefeceram e já o Estado português se apressou a fazer um novo empréstimo, desta vez à TAP (para quem não conhece é aquela companhia aérea que usa as cores da nossa bandeira, mas que a maioria não usa porque existem alternativas mais acessíveis).

de Sofia Florentino




Aplicar auxílio estatal ou deixar a empresa cair em insolvência – eis a questão. Colocada desta forma, parece automático o raciocínio de que se deve tentar “salvar” a companhia área “portuguesa”. Mas o que significa isto concretamente?



De linguagem simples e livre de “economês”, o livro Milhões a Voar – As mentiras que nos contaram sobre a TAP oferece um guia prático para uma resposta. Em apenas 152 páginas, André Pinção Lucas e Carlos Guimarães Pinto desconstroem os 7 mitos que sustentam o apoio à TAP: de que sem esta Portugal deixaria de ter uma companhia aérea nacional; de que a TAP é essencial para o turismo, para a balança comercial, para o emprego português e ainda para a sobrevivência de outras empresas portuguesas – ora é pouco credível que uma empresa a necessitar urgentemente de respiração boca-a-boca seja o sustento de tanta boa gente – e, de que sem a TAP, se perderia a ligação aos PALOP, aos emigrantes e às ilhas.



Não fosse só pelo facto de a TAP representar uma fatia muito pequena na empregabilidade, na balança comercial e nas receitas de empresas portuguesas, todos os argumentos caem por terra por um simples, mas importante facto: a TAP é ineficiente, gasta mais do que produz e “desde 2000, a TAP só apresentou lucros em 2 anos.” Aliás, se não fosse assim, não estaríamos a ter esta conversa porque não precisaria de resgate; e se precisasse, não haveria medo de que este fosse cair num buraco sem fundo.


E todo o pânico patriota que sustenta o apoio à TAP baseia-se na ideia de que sem esta, Portugal, considerado o destino #1 do mundo, onde as companhias aéreas estrangeiras lutam para conseguir mais slots (espaços para voar), ficaria sem companhia aérea de bandeira e o Terreiro do Paço despido de turistas. (Mas alguém acredita que os turistas viajam para Portugal para voar na TAP?)



Além de ridícula, esta imagem ignora os precedentes: de que não é preciso uma companhia aérea estatal para assegurar os transportes aéreos num país e de que quando uma “TAP” decreta falência é rapidamente comprada ou substituída e os seus voos, pilotos e restantes empregados são na sua maioria absorvidos.



Por fim, a última defesa do “empréstimo” à TAP é a de que este se equipara aos que têm sido concedidos a outras companhias aéreas pela Europa fora. Porém, um dos maiores problemas que os autores identificam é que, geralmente, os empréstimos são devolvidos e, no caso da TAP, calculam que, com base nos seus anos mais áureos (ó tempo volta para trás...), esta demorará cerca de 35 anos a devolver os 4 mil milhões de euros previstos na altura em que o livro foi escrito.



Sem recorrer a malabarismos ou floreados, mas com base no real custo do apoio estatal à TAP para o bolso dos portugueses, o par desmistifica os argumentos a favor deste, recordando que não existem “fórmulas mágicas” e os milagres estão caros. Pecando apenas por ter uma lógica demasiado numérica, ainda que acessível, Lucas e Pinto compensam com toques de humor que aligeiram as contas que sustentam um cenário pouco animador. Milhões a Voar, longe de ser um romance e perto de ser uma história de horror, prevê o voo trágico de * milhares de milhões de euros dos contribuintes – meus, teus, nossos – sem retorno, económico e literal.


*valor sob consulta

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