UM GUIA DE DICAS PARA VISITAR MUSEUS EM 6 PASSOS
por Isabel Oom Sacadura Mónica
Visitar um museu pode não ser o programa mais apetecível para muitos, mas, depois de tanto tempo confinados, pode ser que surja a vontade. Para que a experiência seja a melhor possível, aqui vão algumas dicas. Quem sabe nasça um hábito para a vida inteira.
1. Escolher o Museu
Espalhados por Portugal, há museus para todos os gostos. Para além da habitual pintura ou escultura, há museus com peças de mobiliário, cerâmica, ourivesaria, vidros, têxteis, carros, relógios, instrumentos musicais, etc. Há museus com peças de arqueologia, ou focados na etnografia. Há museus com peças europeias, asiáticas, africanas ou que revelam a mistura de culturas, como aqueles com obras de arte Lusíada. Há também casas-museu, fundações, palácios, igrejas, galerias, leiloeiras, etc.
Bastará uma rápida pesquisa na internet para encontrar o museu mais indicado para o gosto de cada um. Contudo, cuidado com os partis pris: não vale cortar da lista determinadas áreas sem dar uma hipótese. Se calhar, quando pensamos em vidro associamo-lo aos copos de água lá de casa, ou se pensamos em porcelana associamo-la às chávenas de café.
Mas acreditem, tudo mudará depois de testemunhar as deslumbrantes formas e cores que o vidro pode ter nas mãos de René Lalique, na Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa ou o requinte e o detalhe das esculturas de porcelana feitas pela Fábrica Vista Alegre, cujos pintores podemos ver a trabalhar no respectivo museu, em Ílhavo.
2. Investigar a Colecção
Depois de escolhermos o museu, é muito útil percebermos quais as peças que não podem passar despercebidas. Seria uma experiência frustrada ir ao Museu Grão Vasco, em Viseu, e passar ao largo da minuciosa píxide afro-portuguesa ou não se deter uns bons minutos a contemplar a vida de Cristo representada no antigo retábulo da Capela–mor da Sé de Viseu, da mesma forma que seria uma falha não nos maravilharmos com o Grande Panorama de Lisboa que nos revela exaustivamente a cidade de Lisboa pré-Terramoto, no Museu do Azulejo, em Lisboa.
Preparar a visita é especialmente importante para museus grandes, para que saibamos em que peças devemos demorar o olhar admirado, contrariando a tentação de correr para ver tudo superficialmente.
A Colecção tornam-se ainda mais interessante se sobre ela tivermos lido alguma nota explicativa ou visto algum vídeo ou documentário. Por exemplo, a visita ao Museu Arqueológico de São Miguel de Odrinhas, em Sintra, em muita será beneficiada se antes assistirmos ao programa Visita Guiada sobre o mesmo. Ajudar-nos-á a observar as peças do museu não como meras pedras, mas como verdadeiras obras de arte testemunhas de um tempo muito distante do nosso.
3. Ir confortável
Assim como ir com roupa desconfortável ou, pior ainda, com sapatos incómodos estragaria a visita, é proibido ir visitar um museu com fome. Na verdade, a maior parte dos museus não só dispõe de um restaurante como, muitas vezes, esse restaurante é bonito e serve óptimas refeições. É altamente recomendável passar lá antes da visita para beber um café ou, melhor ainda, lá descansar e alimentar o estômago depois de alimentado o olhar com tantas obras de arte.
No Museu do Oriente, em Lisboa, a vista sobre o rio e a variedade cultural da comida ajuda-nos a relembrar a longa viagem que as peças que integram a Colecção tiveram de fazer até chegarem à capital portuguesa.
4. Tomar atenção ao detalhe e imaginar o processo de produção
Olhar as peças analiticamente é um hábito divertido que torna as peças ainda mais interessantes.
Ao tomarmos atenção aos detalhes, mais rapidamente ficamos fascinados com a genialidade do autor. Por exemplo, ao contemplarmos com atenção as obras do pintor Carlos Reis, no museu homónimo, em Torres Novas, ficamos facilmente perplexos com o facto deste artista conseguir transmitir desde o expressivo brilho de uma bilha metálica, com uma pincelada branca crua, à realística transparência de um vestido, com uma pincelada branca delicadamente trabalhada.
As obras da Manufactura de Tapeçarias de Portalegre tornam-se ainda mais impressionantes ao consciencializarmo-nos de que cada um dos pontos é isoladamente e cuidadosamente estudado e tecido.
Muitas vezes, essa atenção ao detalhe pode-se tornar numa actividade de humor, ao identificarmos representações que hoje ganham outros significados ou que simplesmente nos fazem questionar o que terá passado pela cabeça do artista…
É também interessante tentar perceber o contexto da produção da obra. Torna-se divertido reconhecer a influência do casal Delaunay nos círculos coloridos d’“A Revolta das Bonecas”, do seu amigo Eduardo Viana, no Museu de Arte Contemporânea do Chiado ou a clara mistura de culturas que existe nas porcelanas chinesas de encomenda europeia ou na faiança portuguesa azul e branca dos séculos XVII e XVIII.
5. Marcar uma visita guiada ou ir com um amigo entendido
Quanto maior for o conhecimento, maior o gosto. Tudo se torna mais interessante quando alguém no explica o contexto sociológico da produção da peça, nos desvenda as narrativas bíblicas, históricas e mitológicas, e nos chama a atenção para curiosos detalhes.
Pode resultar ainda melhor fazermo-nos acompanhar de um amigo que perceba do assunto e que, informalmente, nos vá explicando a Colecção e contaminando-nos com o seu entusiasmo, descontraidamente esclarecendo as nossas dúvidas.
6. Passar pela loja
Por fim, vale a pena passar pela loja do museu. É o sítio ideal para presentes bonitos e originais, além de jogos educativos para crianças.
Vamos a isso?
Porque não começar pelo Museu Nacional de Arte Antiga, um dos mais importantes museus portugueses?
Até já nos prepararam um plano de visita para uma hora, com as peças mais importantes e algumas explicações sobre as mesmas: http://www.museudearteantiga.pt/60-minutos/. No fim, descansa-se no restaurante com vista sobre o rio. Irrecusável.
Boas visitas!
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