Texto de Baltasar Bívar Branco
Ilustração de João Moreira
1 minuto de Pretensiosismo Romântico
Ó Moiras, ó Cloto e Láquesis, que piada de mau gosto…
Que depois de escrever uma crónica sobre o direito universal do Homem ao seu quinhão atmosférico, vós deixais que a vossa mana Átropos jogue à sardinha com o Eduardo Mãos de Tesoura.
Ó Moiras não islâmicas, Moiras sem credo…
Perante a justiça implacável das Moiras, da Morte ou da Natureza, como descobriu o Brás Cubas de Machado de Assis, não há argumento humano que consiga provocar a mínima compaixão.
Ó Moiras asfixiantes, fim dos nossos tempos…
Retirais a parra das nações ditas civilizadas e expões a sua vergonha, a ativa passividade dos seus governantes, a xenofobia indiscreta do norte europeu, o egoísmo do tio Sam e um genocídio cozinhado nos trópicos. Quem tiver olhos para ver que veja
Ó Moiras ecológicas e politicamente ativas…
Cadeados da indústria, correntes nas escolas, oportunidade para partidos de “Interjeição” prepararem o seu assalto à anti-Bastilha. O ar tal como nunca o respirámos regressa. Um ar novo, descarbonizado, que oxidará o egoísmo e frutificará o que na Terra quisermos plantar.
(E agora Moiras começa a vossa desgraça)
Ó Moiras burguesas, romantismo insuportável desta Ode…
Empreendedoras da miséria, promotoras do teletrabalho e do progresso das almas dos vivos e dos mortos. Tentação eutanásica. Irrazoável flanar da geriatria. Corrupção da Liberdade e da União. A esperança do mundo e a sua fé é, nesta Páscoa, a tuberculose que vos debilitará, o arsénico que vos envenenará, o vírus que ganhará.
Ó Moiras Pangolim fujam que a Festa dos Vivos se aproxima!
E traremos novelos novos de vida. Relançaremos a sua indústria. Não faltarão camisolas de afeto, cachecóis de abraços, sapatinhos de bebés… Contrataremos novas colaboradoras: a esperança, a fé e a caridade. Vós estais despedidas com justa causa, a justeza fria e desumana das vossas causas.
E faremos músicas para dançar o vosso fim e arte para iluminar o vosso túmulo.
Que venha o sol o vinho e as flores Que não se privem nas despesas Marés, canções de todas as cores Afastem todas as tristezas Guerras esquecidas por amores; Pão vinho e rosas sobre as mesas; Que tragam cobertores ou mantas E o vinho escorra p'las gargantas E a festa dure até às tantas; Que venham já trazendo abraços Que venham todos de vontade Vistam sorrisos de palhaços Sem se lembrarem de saudade Esqueçam tristezas e cansaços; Venham os novos e os velhos Mas que nenhum me dê conselhos! Que tragam todos os festejos E ninguém se esqueça de beijos Que tragam pendas de alegria E a festa dure até ser dia;
Letra de José Niza
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