Os artistas têm na figura materna uma inspiração frequente. Este ano, em que o Dia da Mãe se une ao Dia do Trabalhador (uma coincidência cheia de sentido), observamos várias formas de a representar.
de Ana Roque Antunes
Fotografia de Grant Whitty
Há sentimentos universais, mas há sempre quem os saiba expressar melhor: é aí que os artistas entram, com uma forma especial de materializar ideias e emoções.
A figura materna é presença assídua no processo de muitos criadores, sendo mesmo a personagem central de inúmeras obras. Hoje, quero destacar o livro A Mãe que Chovia, de José Luís Peixoto.
Nesta obra infantil, o autor conta-nos a história do filho da chuva, que aprende a partilhar o amor da sua mãe.
“Mãe, choves o significado do teu nome sobre a terra. [...] Há tantas palavras que não existiam sem ti. Mãe, choves palavras sobre o mundo.” — José Luís Peixoto, inA Mãe que Chovia
É tocante esta associação entre a personagem “chuva” e a figura materna. De facto, há muito da chuva em cada uma das nossas mães: cuidam e fazem crescer, o seu amor (incondicional) é uma verdadeira força da natureza e, claro, são absolutamente indispensáveis à nossa existência.
Nesta história, em cada verão que o seu filho vivia, a mãe-chuva ia para outras partes do mundo, chover onde era necessário. Na visível tristeza do seu filho, “a mãe explicava-lhe que, no mundo, só ela é que sabia chover”. Esta frase, cheia de significados, surge numa das páginas iniciais do livro, mostrando desde cedo que, mais do que um livro infantil, é uma obra para todos.
Noutras áreas, é impossível não referir obras como a Pietà, de Michelangelo, que representa Jesus, morto, nos braços da sua mãe. Este momento representa uma imensa dor, tendo sido inspiração para várias obras (desde Vincent Van Gogh a Käthe Kollwitz), todas com o mesmo nome.
Em cada uma das peças referidas, a figura materna tem um papel absolutamente central que nos leva a refletir sobre a dimensão e profundidade desta relação.
Por outro lado, e de uma forma mais pessoal, destaco David Hockney, que retratou intensivamente a sua mãe (literalmente, um modelo para dezenas de obras). No panorama da pintura, a mãe foi sempre uma figura presente, de Rembrandt a Picasso, de Renoir a Andy Warhol. Retratar a própria mãe, seja de que forma for, é um desafio que podemos todos trazer para a nossa vida.
Também na cultura pop, encontramos formas distintas de ilustrar a figura materna, maioritariamente através da construção de personagens. Desde Marge Simpson (a mãe paciente em The Simpsons), a Molly Weasley ou Claire Dunphy (as mães furacão das histórias de Harry Potter e Modern Family).
Neste contexto, destaco a personagem Helena, a mãe do filme The Incredibles (que explora a vida dupla de uma família de super-heróis). Parece-me que o poder atribuído a esta personagem, a “mulher-elástica”, não é um simples acaso, mas sim uma escolha completamente intencional, recordando-nos de como as nossas mães se desdobram entre a vida profissional, a educação dos filhos e ainda o peso das tarefas domésticas. Não restam dúvidas: as mães são verdadeiras super-heroínas.
Acabo este texto com um convite: desafio-vos a tentar retratar a vossa mãe através de uma personagem de ficção. Escolham com muito cuidado e partilhem as vossas escolhas nos comentários: não é todos os dias que é Dia da Mãe! Ou será que é?
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