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Sejam à imagem de Maria, virgens (ofendidas)

De Maria Madalena Freire


Mais uma guerra cultural com a qual nos podemos entreter, dividindo-nos ainda mais enquanto sociedade e ignorando os verdadeiros problemas. Mas ainda bem que desta vez não é a “esquerda woke e radical” a ofendida e a tentar “cancelar” quem os ofendeu.


Não, desta vez são os católicos (não é que seja raro, mas hoje em dia são mais vocais).


Ora, qual é o ponto de situação? Na cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos em Paris, numa secção da performance, apareceu uma mesa recheada de mulheres, homens e drag queens luxuosa e extravagantemente vestidos. Depois, entra um homem nu todo pintado de azul, apenas coberto por fruta.



Muitos (des)entendidos não perderam tempo a ir criticar esta monstruosidade: estão a diminuir o grande quadro de Da Vinci “A Última Ceia” e, por sinal, estão a fazer pouco de Jesus Cristo e do catolicismo. Este salto valia uns bons pontos na modalidade de hipismo.

As redes sociais, como sempre, rechearam-se de ofendidos com este retrato. Como ousam os franceses e estas “abominações” a gozar com a Igreja, a Fé, Jesus, Deus!? Bem, pergunto-me se ficaram tão ofendidos quando o tal quadro já teve inúmeras apropriações e representações por séries como The Simpsons onde Homer (no lugar de Jesus) está a estrangular o filho, ou Sopranos, em que Tony Soprano (sociopata que mata tudo o que é fraco) está também no lugar do Filho de Deus. Ficaram? Ou foi só quando viram homens maquilhados que vos suscitou a ofensa?


Talvez, o problema não seja bem a apropriação da pintura, mas o ódio gratuito que querem expressar e tantas vezes têm de conter para disfarçarem a sua vontade de inclusão e aceitação “deles”.

Mas este nem é o maior ponto. A graça em tudo isto está na explicação do diretor artístico, e nas evidências imageticas da representação. A cena representada não é a Última Ceia, mas sim o Festim dos Deuses do Olimpo, sendo essa religião grega, que vem da Grécia de onde vêm… os Jogos Olímpicos. O homem azul nu é Dionísio/Baco, Deus do Vinho. A performance quis celebrar a festividade dos jogos e a boémia da qual os franceses são tão fãs.



Mas será que os católicos ofendidos quiseram sequer perceber o contexto, os ícones? Não. Estavam ocupados a destilar ódio nas redes sociais contra uma comunidade que, na sua maioria, não lhes quer mal. A vida de drag queens ou homens que se maquilham não se ocupa em derrubar os valores judaico-cristãos que tanto apregoam. Aliás, até podem ser comuns.


Mas enquanto formos levados pela maré do ódio que muitos querem implementar no Mundo, nas guerras culturais insignificantes e nos distraem dos reais problemas que nos assombram, não iremos encontrar o bem comum.

A porta para criticar a comunidade LGBTQIA+ - que nada tem a ver com o que foi feito, normalmente gostam de amalgamar tudo o que é homossexual no mesmo prato para resolverem tudo de uma vez - abriu-se.


E muitos católicos não hesitaram em entrar. Não os critico, afinal aconselharam-nos a ser como Maria, virgens (ofendidas).


Nota: tenho muito respeito pela Fé dos outros e as suas crenças. Não sou ninguém para julgar a forma como se quer viver a vida e como se pauta a moralidade. No entanto, existem umas maçãs podres que não dignificam os bons católicos que conheço. Por isso, ressalvo os jesuítas que nunca mostraram nada para além de respeito e amor por mim e os outros.

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