Ó Pombas sufragistas, brancas ou pretas, sois vós que carregais a paz. Vós que inundais todo o globo, escolhei bem os vossos alvos. Carregai hoje de fezes aqueles que não respeitam seus pares.
Texto de Francisco Cordeiro de Araújo
Ó meus estimados columbídeos, ratos do céu e arraia-miúda do ar. Sois vós a praga desta terra, até mesmo quando nela não pondes as vossas patas. É a vós que me dirijo sem limites de caracteres, neste púlpito onde não chegais e onde nunca vos verei arrulhar.
Vós que carregais intemporais mensagens para vários destinatários, deixai hoje o Pessoa do Chiado e ouvi a mensagem deste vosso pregador. Fora do prato sois piores que os morcegos, julgais que é tudo canja neste mundo.
Vós que se sabeis orientar, não percais o Norte erudito. De uma vez por todas, deixai de delapidar as estátuas. Se não sabeis a História sou eu que vos chumbo, sem qualquer pressão no ar.
Vós não sois tão diferentes das gárgulas no vosso diletantismo. Se estas sobreviveram em Notre-Dame, não queirais fazer tombar seus semelhantes. Deixai quem está quieto, não são elas o opressor por não terem lado, também elas não respiram e muito menos conseguem articular.
Ó Pombas sufragistas, brancas ou pretas, sois vós que carregais a paz. Vós que inundais todo o globo, escolhei bem os vossos alvos. Carregai hoje de fezes aqueles que não respeitam seus pares.
Por mais beatas nas ruas que encontrais diariamente, também de banal sal se faz a nossa calçada. Sabeis bem que o Sal e o Sol neste país à beira mal plantado, escorraçam não a raça, mas a neve. Portugal não é, portanto, um país Branco, é nas quatros estações um país verde. Esse verde de esperança colado ao nosso mastro, é o alento do nosso futuro e o vigor do nosso passado quinhentista.
Ó meus caros ouvintes sem ouvidos visíveis, escutai as palavras minhas. Já não falo para os que estão em peixe nas minhas festas, pois este ano não as tenho. Como eu, fugiram às brasas, para dar mais sal a esse mar sintético.
Deixarei o snobe vós que a voz já me falta, para chegar melhor ao meu povo. Vou me apropriar de uma gíria simplificada que agrade o leitor e o eleitor. Nesta bem venturança, é tempo de dizer basta.
Ó seus nómadas, que não se integram, voltem para o vosso país ou enfrentem as jaulas. Bem sei que nos ajudaram na guerra, mas por nós pouco importa, pois já muito nos bombardearam.
Andam a viver à conta do nosso milho. As aeronaves desceram à terra, para que vocês pudessem voar. Voem, deem o salto, pois não mais terão o alimento dourado, nem mesmo os restos da minha carcaça.
Voltem para o pombal, para que possamos cuidar dos vivos e enterrar os mortos. Nas nossas vielas os únicos bandos de pardais serão os putos.
Ó meus caros pombos, como sois uma epidemia mais do que da Graça à Glória, “não acaba o vosso Sermão em Graça e Glória”.
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