É um grito de liberdade, da criatividade pura por ser, finalmente, verdadeiramente livre. Num cenário algarvio são reunidos o fado e a música africana, o contemporâneo e o tradicional, e deixa de haver uma união pela geografia mas sim por um estado de espírito.
Crónica de Cristina Rogeiro
Cantora e estudante da Escola Superior de Música de Lisboa
Autêntica mas universal. É esta a imagem de Ana Moura que é agora fortemente vincada. A artista, que recentemente deixou com gratidão a equipa que trabalhou consigo até hoje, estreia-se com o seu primeiro single como artista independente. Já o tema “Vinte Vinte” que lançou com Branko e Conan Osíris para “enterrar” 2020 dava indícios de uma nova faceta da cantora que agora interpreta “Andorinhas”.
É um grito de liberdade, da criatividade pura por ser, finalmente, verdadeiramente livre. Num cenário algarvio são reunidos o fado e a música africana, o contemporâneo e o tradicional, e deixa de haver uma união pela geografia mas sim por um estado de espírito. Isto é a definição de ser nosso mas também do mundo, esse que Ana Moura já conquistou anteriormente em turnés mundiais. No entanto, hoje desprende-se do sucesso e reinventa-se, algo que exige muita coragem e amor à sua arte para alguém com uma carreira de tantos anos.
Ana Moura começou a cantar ainda adolescente no mítico Senhor Vinho, e lançou o seu primeiro disco “Guarda-me a Vida na Mão” em 2003. Juntou o flamenco e as tradições ciganas, criando uma nova identidade no fado. Depois os discos “Aconteceu” e “Para Além da Saudade” foram sucesso atrás de sucesso, em Portugal e lá fora.
Das casas de fado viajou até ao Carnegie Hall em Nova Iorque e subiu ao palco num concerto de Rolling Stones em Lisboa, cantando ao lado de Mick Jagger. Também Prince voou propositadamente até Paris para ouvir a fadista em concerto e, mais tarde, em 2010, a mesma subiu ao palco com o ícone no festival Super Bock Super Rock. Desde cedo, Ana Moura mostrou que faz parte de outra liga, por quebrar a barreira da língua e criar uma grande empatia com o público.
Numa altura em que parece que já tudo foi feito, só a fadista de Coruche seria capaz de se reinventar e trazer-nos esta nova imagem e sonoridade que nos faz querer mais e mais. Por agora podemos apenas esperar ansiosos e expectantes o disco.
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